quinta-feira, 19 de agosto de 2010

CRER E PERGUNTAR





Olá! Já passou imenso tempo desde que não passo por cá…



Mas por razões pessoais, e sobretudo profissionais, não me foi possível ir actualizando este blog. Contudo, isso não significa que desista das coisas boas que comecei por cá! Por isso, hoje, para “sacudir o pó”, começo por revelar um pouco das leituras que venho fazendo.

Trata-se de um livro muito interessante de um teólogo que aprecio: Antonio Pagola. Escreveu estas páginas dedicadas especialmente àqueles que “perderam a fé”, e partilho-o aqui simplesmente porque, com uma linguagem muito simples, Pagola tem um jeito especial de experimentar a fé como se fosse a primeira vez, ainda que muitas das coisas já nos pareçam tão familiares…

Mas a Fé não é coisa de “saber”, senão aquilo que se “saboreia” e dá sabor. É aquele sal da terra, e gosto pela vida, que brota duma relação e de uma história de amizade que um dia Deus mesmo começou connosco…



«Provavelmente tu não rejeitas Deus. (…) O que acontece é que não consegues crer, nem vês para que te pode servir a fé. Então, porque não começarmos por esclarecer algumas coisas?

Poderá alguém ser forçado a crer? Não. Ninguém te pode obrigar a crer a partir de fora. Tens que te sentir absolutamente livre. Tu és o único responsável pela tua vida. És tu que tens que decidir como queres viver e como queres morrer. A única coisa que podemos fazer é dialogar entre nós, partilhar honestamente as nossas experiências e ver se nos podemos ajudar um pouco a acertar na vida.

Temos que fazer algo para crer? Sim, desde já. Não chega falar destas coisas de maneira indiferente ou frívola. Também não é suficiente deixar-te arrastar pela tradição. És tu mesmo que tens de aprender a sentir-te a gosto com Deus. Para começar, estar mais atento ao que vai dentro do teu coração, e atrever-te a escutar as interpelações que brotam do teu interior.


Haverá algum método para crer? Não. Cada pessoa tem que percorrer o seu próprio caminho. Não existem receitas nem fórmulas mágicas. O importante é que sejas sincero, que trates de escutar a vida até ao mais fundo e busques a Deus com confiança. Isso sim, tens que te empenhar seriamente e dedicar algum tempo.


Mas…então a fé não é uma questão de temperamento? Sim, sem dúvida que há pessoas mais sensíveis ao mistério de Deus e outras menos dispostas, mas a fé não é um assunto de pessoas “crédulas” ou “sensíveis”. Não tens que violentar a tua maneira de ser. Tu podes e deves buscar a Deus a partir do teu próprio temperamento. Deus quer encontrar-se contigo tal como tu és.

Pode-se ter fé tendo dúvidas? Claro que sim. Para seres crente não é imprescindível que saibas responder a todas as interrogações e a todas as dúvidas que te vêem à cabeça. O decisivo é que te relaciones com Deus honestamente. Não é mais crente aquele que aborda os “dogmas” ou a doutrina cristã com mais segurança, senão aquele que se esforça com sinceridade por viver em verdade diante de Deus. O que importa é que te não te enganes a ti próprio nem trates de enganar a Deus.

Será preciso sentir alguma coisa para voltar a crer? Não, necessariamente. Alguns costumam sentir paz e alegria interior; têm a sensação de estarem a descobrir o caminho certo. Mas o importante não é procurar “experiências especiais”, senão dar passos concretos de modo que se veja o teu desejo sincero de descobrir o sentido último da tua existência (...)


Será simples ou complicado crer? Olha, crer é tão simples e tão complicado como o viver e o amar. Umas vezes, poderá parecer-te o único meio de viver de uma maneira digna e feliz. Outras vezes, poderá parecer-te difícil e duro. Mas, se te encontrares verdadeiramente com Deus nunca mais o esquecerás; se te encontrares com Jesus de Nazaré no mais íntimo do teu ser, a tua vida mudará e serás outro»


CONTINUA


Creer, para quê? - Preguntas
José Antonio Pagola

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