quinta-feira, 19 de agosto de 2010

CONFIAR




«Não sei se estarás de acordo mas, segundo tudo leva a crer, a desconfiança está a aumentar na sociedade contemporânea. São os inquéritos e as sondagens de opinião que o dizem. A gente desconfia cada vez mais dos colegas de trabalho e dos vizinhos. Desconfia da Administração, já não embarca nas promessas dos políticos. Vai retirando a sua confiança da Igreja. Já não se espera grande coisa de ninguém.


Os especialistas dizem que as causas são diversas.
A competitividade, a falta de comunicação, a insegurança perante o futuro estão a gerar um tipo de pessoa que se coloca na defensiva e toma sempre as suas “precauções”.
Não sei se é assim. O certo é que viver a partir de uma atitude desconfiada não ajuda ninguém a viver de maneira plena. Tu o sabes:
para enfrentar a vida de cada dia de maneira positiva e criativa há que viver com confiança.


Há uns anos li as cartas que Dietrich Bonhoeffer escreveu na prisão onde tinha sido colocado pelos nazis. Numa delas, escrita poucos dias antes da sua execução, o grande teólogo e mártir escrevia assim: “Não há nada pior que semear e favorecer a desconfiança; pelo contrário, devemos favorecer a confiança em toda a parte, sempre que possível. Ela seguirá sendo para nós um dos maiores dons, dentre os mais raros e belos”


Estou convencido de que é assim. É a confiança que te pode suster nas situações mais difíceis e que te dará sempre um grande potencial de energia para enfrentares os teus problemas. Se te deixas cair nas garras do cepticismo e do ressentimento, se vives desconfiado de tudo e de todos, irás-te empobrecendo. Viverás de um modo triste e estéril.


Quero recordar-te outra coisa. É difícil que a Fé em Deus possa brotar de um coração desconfiado. Já o pude comprovar muitas vezes, em conversas que tive com pessoas que andam à procura de Deus. Há muito que exigem provas e argumentos para crer, mas não se dão conta de que interiormente vivem “fechados” a Deus. E, quando uma pessoa não se abre a Deus, ou não se atreve a confiar totalmente nele, Deus não pode entrar na sua vida.

Também já assisti ao contrário. Pessoas simples, que depois de muitos anos de viver afastadas da fé, procuram a Deus não pelo caminho das provas, dos argumentos e dos livros, mas pela via do coração, numa confiança total nele (…).
Na tradição cristã, o apóstolo Tomé é tido como o protótipo do homem desconfiado que não aceita crer em Cristo ressuscitado enquanto não o vir com os seus próprios olhos e não o tocar com as suas próprias mãos. Não se fia de ninguém. Quer provas. Não sei se tens presente a cena que nos descreve o evangelista João. Quando Jesus se lhes apresenta, diz-lhe estas palavras: “Tomé, não sejas incrédulo, mas fiel”.


Quem sabe se tu não estarás cheio de dúvidas. Cada vez te parece mais difícil crer em certas doutrinas. Percebes que há coisas na Igreja que nunca poderás aceitar. Sentes dentro de ti com certa insipidez e mal-estar. Já sabes que nunca poderás compreender a Deus com a tua mente mas, perguntas-te tu, não haverá alguma prova ou algum argumento definitivo?

Eu só sei dizer-te as palavras de Jesus: “Não sejas incrédulo, mas fiel”. Confia, não feches nenhuma porta. Procura a Deus com confiança. Não desanimes.
A Deus procura-se “às apalpadelas”. Por vezes, a fé mais sincera surge da dúvida mais penosa.

O que importa é que te aproximes do mistério de Deus de coração aberto. Não estejas à espera de resolver pela tua própria cabeça as interrogações e as dúvidas que te fazem sofrer. Mesmo no meio da escuridão, das dúvidas e das incertezas pode despontar em ti a fé, se souberes abrir-te a Deus com humildade e confiança.»


Creer, para quê?
Jose Antonio Pagola

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