sábado, 26 de março de 2016

SÁBADO MAIOR


“O Povo que vagueava nas trevas viu uma grande Luz, os que habitavam na região das trevas da morte banharam-se de Luz”  (Is 9, 2)






















Hoje…a mais luminosa das noites e dos dias, porque será o PRIMEIRO DIA!
HOJE a morte será virada do avesso, de ferrolhos e portões destruídos…
E desse ventre escuro e desfeito de trevas, emerges TU, de Mão dada a Adão e Eva e a toda a sua descendência, para (n)os elevares ao Pai!
HOJE o Teu Destino é o Nosso!
Estender-nos-ás a Tua Mão e não adormecemos…porque, vigilantes,

PASsamos COntigo pela Aurora da Tua (e Nossa) Vitória!


“Que todo o homem piedoso e amigo de Deus goze esta bela e luminosa festa! (…) Assim, pois, entrai todos na alegria do vosso Mestre! Primeiros e últimos, ricos e pobres, os que vigiaram e os que se deixaram dormir, vós que jejuastes e vós que não jejuastes, alegrai-vos hoje! O festim está pronto, vinde todos (Mt 22,4)! O vitelo gordo está servido, que ninguém se vá embora com fome. Saciai-vos todos no banquete da fé, vinde servir-vos do tesouro da misericórdia. Que ninguém lamente a sua pobreza, porque o Reino chegou para todos; que ninguém chore as suas faltas, porque o perdão brotou do túmulo; que ninguém receie a morte, porque a morte do Salvador dela nos libertou. Aquele que a morte tinha agarrado destruiu-a, Aquele que desceu aos infernos despojou-os...
Isaías tinha-o predito ao dizer: "O inferno ficou consternado quando te encontrou"(14,9). O inferno ficou cheio de amargura porque foi arruinado; humilhado, porque foi entregue à morte; esmagado, porque foi aniquilado. Apoderou-se de um corpo e viu-se diante de Deus; agarrou-se à terra e encontrou o céu; apropriou-se do que via e foi derrotado por causa do Invisível. "Ó morte, onde está o teu aguilhão? Inferno, onde está a tua vitória?" (1 Co 15,55). Cristo ressuscitou e foste arruinada! Cristo ressuscitou e os demónios foram precipitados! Cristo ressuscitou e os anjos estão em júbilo! Cristo ressuscitou e já não há mortos nos túmulos porque Cristo, ressuscitado dos mortos, tornou-se as primícias dos que tinham adormecido. A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amén!”

Homília Pascal de S. João Crisóstomo (Arcebispo de Constantinopla), Séc. IV




"Foi ele que venceu a morte e confundiu o demónio, como outrora Moisés ao faraó. Foi ele que destruiu a iniquidade e condenou a injustiça à esterilidade, como Moisés ao Egipto. Foi ele que nos fez passar da escravidão para a liberdade, das trevas para a luz, da morte para a vida, da tirania para o reino sem fim, e fez de nós um sacerdócio novo, um povo eleito para sempre. Ele é a Páscoa da nossa salvação.”

Homília Pascal de Melitão de Sardes, Séc. II 








sábado, 19 de outubro de 2013

Memória do Profeta Martin Luther King [7] - CARTA DO CATIVEIRO DE BIRMINGHAM (2ª parte)





Para quem nunca sentiu no corpo as farpas da segregação talvez seja fácil dizer “Espera”. Mas para quem viu multidões perversas linchar-lhe sem dó nem piedade pai e mãe e afogar a seu bel-prazer irmãos e irmãs; quem viu polícias dominados pelo ódio insultar, espancar e mesmo matar os seus irmãos e irmãs negros; quem vê a esmagadora maioria de vinte milhões de Negros seus irmãos sufocar numa asfixiante bolha de pobreza no meio duma sociedade próspera; (…) – para esses é fácil compreender porque razão nós temos dificuldade em esperar. Chega uma altura em que o copo da paciência transborda e os homens não mais querem ver-se mergulhados no abismo do desespero. Espero, meus senhores, que sejam capazes de compreender a nossa legítima e inevitável impaciência.

            (…) tenho de confessar que nos últimos anos os Brancos moderados me desiludiram muito. Cheguei à lamentável conclusão de que o grande obstáculo que o Negro enfrenta na sua caminhada para a liberdade não é o membro do Conselho dos Cidadãos Brancos, ou do Ku Klux Klan, mas sim o Branco moderado, que preza mais a “ordem” do que a justiça; que prefere a paz negativa que é ausência da tensão à paz positiva que é a presença da justiça; (…) que duma forma paternalista acha que pode ser ele a definir o calendário para a libertação de outro homem (…). É mais frustrante a compreensão superficial à gente de boa vontade do que a incompreensão absoluta de gente de má vontade. É muito mais irritante uma aceitação morna do que uma rejeição firme. (…)

            Quem desobedece a uma lei injusta tem de fazê-lo de forma aberta, convicta e na disposição de aceitar as consequências do seu ato. Entendo que uma pessoa que infringe uma lei que em consciência considera injusta, e está pronta a aceitar a pena de prisão para assim alertar a consciência da comunidade para essa injustiça, está na realidade a dar provas do maior respeito pela lei.

            (…) E agora vindes dizer-me que esta via é extremista. Mas embora tivesse ficado triste por me chamarem extremista, à medida que fui pensando no assunto fui começando a gostar do rótulo. Pois não foi Jesus extremista do amor: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam”? Não foi Amós um extremista da justiça: “Corra o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso?” Não foi Paulo um extremista do evangelho: “trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus”? (…) Portanto a questão não está em saber se somos ou não somos extremistas, mas sim que tipo de extremistas seremos. Seremos extremistas do ódio ou extremistas do amor? Seremos extremistas da perpetuação da injustiça ou da causa da justiça? (…)

         Permiti-me que vos dê conta da minha outra grande decepção. Fiquei profundamente decepcionado com a Igreja branca e seus dirigentes. (…) Fiquei desapontado com a Igreja. Não estou com isto a querer alinhar com aqueles críticos negativos que têm sempre algum erro a apontar à Igreja. Falo apenas como ministro do evangelho que ama a Igreja; que foi criado no seu seio; que se amamentou das suas bênçãos espirituais e se irá manter fiel a ela enquanto tiver um sopro de vida. (…)
            No meio duma luta implacável para acabar com a injustiça racial e económica no nosso país, ouvi muitos pastores dizer: “são questões sociais, com as quais o evangelho não tem nada a ver”. E vi muitas igrejas dedicarem-se a uma religião do outro mundo que faz uma distinção estranha, que a Bíblia não suporta, entre o corpo e a alma, entre o sagrado e o profano. (…)
            Muitas vezes perguntava a mim próprio: “que espécie de fiéis vem rezar aqui? Que Deus é o deles? Onde estavam as suas vozes quando os lábios do Governador destilaram palavras de interposição e aniquilação? (…) Onde estavam as suas vozes de apoio quando os Negros, homens e mulheres, maltratados, exaustos, decidiram erguer-se das negras masmorras da complacência para subir as radiosas colinas do protesto criativo?”

            Pois bem, estas perguntas continuam a bailar-me no espírito. Profundamente decepcionado, tenho chorado perante o laxismo da Igreja. Mas podeis ter a certeza que as minhas lágrimas são lágrimas de amor. Não pode haver decepção profunda onde não há amor profundo. Sim, eu amo a Igreja. (…)
            Tempos houve em que a Igreja tinha muita força – foram os tempos em que os primeiros cristãos rejubilavam por se sentirem dignos de sofrer por aquilo que acreditavam. Nesses tempos a Igreja não era um mero termómetro que registava as ideias e princípios da opinião pública; era um termostato que transformava os costumes da sociedade. Sempre que os primeiros cristãos punham os pés numa cidade, os detentores do poder entravam em pânico e imediatamente tratavam de mandar prender os cristãos acusando-os de serem “perturbadores da paz” e “intrusos agitadores”. (…)

            Agora as coisas são diferentes. (…) Longe de se sentirem perturbadas pela presença da Igreja, as instâncias do poder duma comunidade normal sentem-se reforçadas pela aprovação tácita – quando não mesmo expressa – que a Igreja dá ao atual estado de coisas.

            (…) Durante mais de dois séculos, os nossos antepassados trabalharam sem salário neste país;(…); construíram as casas de seus senhores suportando as maiores injustiças e a mais vergonhosa humilhação – e mesmo assim deram provas duma vitalidade inesgotável e continuaram a crescer e a multiplicar-se. Se as inomináveis crueldades da escravatura não conseguiram travar-nos, DE CERTEZA que também não vai ser a oposição que agora enfrentamos a consegui-lo.

(…) Vocês felicitam calorosamente a polícia de Birmingham por ela manter a “ordem” e “prevenir a violência”. Duvido que a tivessem felicitado da mesma forma calorosa se tivésseis visto os seus cães ferrar os dentes em Negros desarmados e não-violentos. Duvido que vocês fossem tão apressados a felicitar a polícia se vissem o tratamento indigno e desumano que ela dá aos Negros aqui, na prisão municipal; se a vissem empurrar, insultar as mulheres negras, velhas e novas; (…) se a vissem recusar-nos comida, como aconteceu duas vezes, só porque nós queríamos cantar (…).

            Nunca na minha vida tinha escrito uma carta tão longa. Receio mesmo que seja demasiado longa para o vosso precioso tempo. Posso garantir-vos que teria sido bem mais curta se tivesse sido escrita numa mesa confortável, mas o que é que um homem pode fazer quando está sozinho numa cela exígua, a não ser escrever cartas longas, ter pensamentos longos e rezar orações longas? (…)

            Vosso pela causa da Paz e da Fraternidade
           
 Martin Luther King Jr.


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Memória do Profeta Martin Luther King [6] - CARTA DO CATIVEIRO DE BIRMINGHAM (1ª parte)




Martin, atirado para uma cela solitária julgava-se no fim da linha. Contudo, no dia seguinte, foi transferido para uma cela vulgar, com direito a contactar a sua mulher, Coretta, e  seus advogados.  Graças à intervenção do Presidente John F. Kennedy, que contactara pessoalmente a polícia municipal de Birmingham, Martin Luther King gozava agora de proteção. Contudo permanecia detido.

Mais tarde diria: "Durante mais de vinte e quatro horas mantiveram-me incomunicável, numa solitária. Ninguém estava autorizado a visitar-me, nem mesmo os meus advogados. Foram as horas mais longas, frustantes e revoltantes que alguma vez vivi."

Entretanto, Martin recebe uma carta dos líderes religiosos de Birmingham (protestantes, católicos , entre outros) apelando que King terminasse com as manifestações, e reforçando a ideia de que era urgente "paciência", "negociação" e outras formas de protesto mais "moderadas".

Martin, que acima de tudo vivera as manifestações na pele, resoluto, decide escrever uma carta de resposta. Sem direito a folhas de papel, improvisou, à rebelia do estabelecimento prisional, escrever nas margens de jornais usados e em rolos de papel higiénico a sua carta. Depois, clandestinamente passou-a de mão em mão na prisão, até sair de lá e chegar aos destinatários. Ali mesmo naquela prisão, Martin escreveu uma das mensagens mais inspiradas, frontais e marcantes da sua campanha pela justiça e liberdade.


Excertos da 1ª parte da carta: 

Encarcerado na prisão municipal de Birmingham, fui confrontado com a vossa recente declaração, onde consideram as minhas actividades recentes como “insensatas e inoportunas”. (…)
Acho que devo começar por explicar-vos a razão da minha presença em Birmingham, já que verifico que vocês foram influenciados pela ideologia que é contra os “intrusos que vêm de fora”. (…) Há vários meses a nossa filial de Birmingham pediu-nos que preparássemos para participar num programa de ação direta não-violenta se esta viesse a revelar-se necessária. De imediato acedemos a esse pedido, e na altura própria cumprimos a nossa promessa.(...)

            Mas mais importante que tudo, estou em Birmingham porque a injustiça está cá. Do mesmo modo que os profetas do século VIII a.C. deixaram as suas aldeias para levar a sua “palavra do Senhor” muito para além dos limites das suas terras natais, e do mesmo modo que o apóstolo Paulo deixou a sua aldeia de Tarso para levar o evangelho de Jesus Cristo às longínquas paragens do mundo greco-romano, também eu me vejo na obrigação de levar o evangelho da liberdade para fora das fronteiras da minha cidade natal. (…)

            Não posso ficar tranquilamente em Atlanta sem me preocupar com o que se passa em Birmingham. A injustiça onde quer que ocorra, é uma ameaça à justiça em todos os lugares. Estamos presos numa rede de relações mútuas a que não podemos fugir, o destino a todos envolve num único manto. O que quer que afete um, diretamente, afeta a todos, indiretamente. Não mais nos podemos dar ao luxo de viver segundo a ideia mesquinha e provinciana do “agitador vindo de fora”. (…)

            Vocês criticam as manifestações que se têm realizado em Birmingham. Mas a vossa declaração, lamento dizê-lo, não exprime a mesma preocupação face à situação que está na origem dessas manifestações.

            (…) Organizámos uma série de sessões de trabalho sobre o tema da não-violência e repetidas vezes pusemos a nós próprios a pergunta: “Estás preparado para receber ofensas e não responder com agravos?” “estás preparado para suportar as duras provas da prisão?”

            Podem perguntar: “Porquê ação direta? Porquê ocupações de instalações, marchas e outras iniciativas do género? Não é preferível a via da negociação?” Tendes toda a razão em apelar à negociação. Aliás, esse é o verdadeiro objetivo da ação direta. Com a ação direta não-violenta pretende-se criar uma crise tão grande e uma tensão forte que forcem uma comunidade que sistematicamente se recusa a negociar a encarar a situação. Pretende-se dramatizar a situação para que deixe de ser possível ignorá-la. Talvez vos choque o facto de eu mencionar a criação de tensão como fazendo parte do trabalho do resistente não-violento. Mas devo confessar-vos que não tenho medo da palavra “tensão”. Sou decididamente contra a tensão violenta, mas há um tipo de tensão construtiva, não-violenta que é necessário para se poder avançar. (…)


O objetivo do nosso programa de ação direta é criar uma situação tão crítica que abra inevitavelmente a porta à negociação. (…)


            Meus amigos, quero dizer-vos que nunca conseguimos nada em termos de direitos civis sem a ajuda duma pressão determinada, legal e não-violenta. Lamentavelmente, a história mostra-nos que raramente os grupos privilegiados abrem voluntariamente mão dos seus privilégios. (…)


     Sabemos por dolorosa experiência própria que o opressor nunca concede voluntariamente a liberdade; tem de ser o oprimido a reivindicá-la. (…) Há anos que ouço a palavra “Espera!”. Ela ressoa nos ouvidos de todos os Negros com uma familiaridade penetrante. Esta palavra “Espera” quase sempre quer dizer “Nunca”. Não podemos deixar de constatar, com um dos nossos distintos juristas, que “justiça muito adiada é justiça negada”. (…)

sábado, 5 de outubro de 2013

Memória do Profeta Martin Luther King [5] - A PROVAÇÃO DE BIRMINGHAM






 “Entendo que uma pessoa que viola uma lei que em consciência considera injusta, e está pronta a aceitar a pena de prisão para assim alertar a consciência da comunidade para essa injustiça, está na realidade a dar provas do maior respeito pela lei”
Martin Luther King, Birmingham, 1963.


À medida que os anos de luta não-violenta iam passando, King e a sua associação (o SCLC) iam adquirindo algumas vitórias, mas também amargas derrotas. Por exemplo, em Albany o movimento dos Direitos Cívicos não vingou, pois outras associações não concordavam com o método não-violento de King. Uma delas, o SNCC, era liderada por estudantes universitários negros e uma dissidente do SCLC, que guardava algum ressentimento a King. Achavam-no um idealista, movido mais por convicções religiosas pseudo-messiânicas do que por estratégias realistas.

Quando ele falava, no gozo chamavam-no “o Senhor”, troçando dos seus discursos geralmente inflamados e arrebatadores. Em consequência disso, os protestos e marchas dividiam-se e não havia organização. Na falta de coesão, depressa a maioria da comunidade negra cedeu ao desânimo, e a luta pela liberdade em Albany sofreu um revés.

Em 1961, tinham-se iniciado as “Viagens da Liberdade” (Freedom Riders). Constituídas por grupos de jovens brancos e negros que viajavam em autocarros, tinham por objetivo percorrer toda a América, sensibilizando as populações para a realidade duma convivência social e inter-racial sem segregação. Contudo, a violência de grupos fanáticos racistas conduziu à matança e linchamento de alguns grupos de ocupantes, resultando até em autocarros incendiados. Martin, irritado, pedia ao recém-eleito presidente John F. Kennedy escoltas de soldados federais que garantissem a proteção dos viajantes, mas tal não aconteceu.

Apesar de todas as contrariedades – que não foram poucas, nem menores -,com uma determinação invencível, Martin mantinha acesa a chama da esperança…

Em 1963, King e os seus companheiros do SCLC decidiram avançar “de cabeça” para uma das ações mais ousadas de sempre. Iriam promover a luta pelos Direitos Cívicos na cidade sulista mais segregada da América: Birmingham. Lá, não só se fazia sentir na máxima intensidade a injustiça do racismo, como também era a cidade com a maior desigualdade económica da nação. Desde os anos 30, Birmingham foi marcada por uma onda de violência contra os operários afro-americanos, promovida pelos donos da Indústria local e pelos seus poderosos interesses financeiros, que estendiam os seus tentáculos até ao Norte.


Martin Luther King estava disposto a “cavar um túnel de esperança na enorme montanha do desespero” de Birmingham. Se lá conseguisse chamar a atenção do país e do Supremo Tribunal de Justiça, então, esse exemplo iria alastrar-se por contágio em todos os estados americanos.

Em Birmingham, King contou com a colaboração de James Bevel, um ativista da luta não-violenta gandhiana, e também do reverendo Fred Shuttlesworth, que já tinha sofrido atentados, esfaqueado, preso e espancado por defender os direitos da comunidade negra. A população enfrentava a mão de ferro da polícia municipal, comandada pelo cruel comandante Connor, na altura conhecido e temido pela comunidade negra como “Bull Connor” (o “Touro Connor”.


Após as eleições autárquicas do município, Martin deu início à operação “projeto C”“C” de Confrontação –, que consistia em “sit-ins”, isto é, ocupações em massa de cidadãos de côr em lugares públicos em toda a cidade reservados apenas a brancos. Com isso, esperava uma reação de “Bull Connor”, com intuito de mostrar à América e ao mundo a violência e o tratamento desumano da sua polícia de choque, mandatada para usar todos os meios necessários de modo a manter os obscuros interesses segregacionistas.

E assim foi. Na sequência das ações diretas de protesto não violento da comunidade negra, seguiram-se bastonadas, pontapés, cães-polícia lançavam-se violentamente sobre pessoas indefesas (também mulheres e crianças) mordendo-as como se representassem uma ameaça iminente à “paz” e “ordem”, mangueiras de água sob pressão descarregavam sobre os manifestantes projetando-os por vezes a vários metros, arrastados pelo chão; inúmeras detenções seguiam-se ao comando de Connor. Contudo, muitos, durante a detenção gritavam: Não tenho medo dos vossos cães…”; “Não tenho medo das vossas mangueiras”; “Não tenho medo de nenhum Bull porque quero a minha liberdade! Quero a minha liberdade! Quero a minha liberdade AGORA!”.

 

Preocupados com a imagem que estava a ser passada, as autoridades de Birmingham conseguiram que o Tribunal estadual estabelecesse um embargo a todo o tipo de manifestações.


Entretanto King queria participar numa próxima manifestação, convidado pela comunidade local. Mas isso representava um dilema terrível: por um lado, o SCLC necessitava do seu líder para sair da cidade e fazer conferências em todo o país, apelando à consciência da nação, sobretudo angariar fundos para pagarem a fiança de muitas famílias que enchiam as prisões municipais de Birmingham. Mas, se Martin saísse da cidade, arriscava-se a perder a solidariedade com os manifestantes e não dar a cara pelo “projeto C”. Por outro lado, se Martin fosse à manifestação, desobedecia ao Tribunal estadual, e podia pôr em risco a legalidade das suas ações, a sua liderança, e arriscar perder para sempre qualquer ação legal a favor dos Direitos Cívicos.

Atormentado por este dilema, Martin fechou-se isolado numa sala ao lado da reunião com os seus companheiros, e orou. Diria mais tarde: “sentei-me no meio do mais profundo silêncio que alguma vez senti”. Meia hora depois, sai da sala com um ar determinado e vestido com uma camisa e calças de ganga dizendo: “Não sei o que irá acontecer! Não faço ideia donde virá o dinheiro, mas tenho de fazer um ato de fé”. Decidira ir à marcha e desobedecer ao “embargo imoral” do Tribunal.



A 12 de Abril, acompanhado do seu fiel amigo Abernathy, juntou-se à manifestação e em coro com os manifestantes gritava: “A liberdade chegou a Birmingham!”. Os homens de Connor estavam a postos, e mal viram King aproveitaram imediatamente a oportunidade: agarraram-no violentamente pelo cinto e levaram-no para um carro-prisão.




Nessa mesma noite, Martin Luther King foi atirado para uma cela escura e isolada. Julgava que desta vez o iriam matar…

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Memória do Profeta Martin Luther King [4] - A CORAGEM DA NÃO-VIOLÊNCIA EM TEMPOS VIOLENTOS


 

A comunidade negra de Montgomery, o MIA, e todos os afro-americanos dos EUA celebravam o fim da segregação racial nos autocarros, considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal de Justiça americano. Naquele tempo, apesar das convicções racistas de muitos políticos, pelo menos estes acatavam e respeitavam a Constituição.

Nessa altura Martin respirava de alívio, e começava a ser famoso por ter conduzido um movimento de pessoas a uma revolta pacífica e ordeira. Estava provado que as técnicas de não-violência gandhianas surtiam efeito. Mas isso não impedia que os inimigos dos Direitos Cívicos deixassem de exercer a sua influência e violência. Bem pelo contrário. Para eles era imperativo iniciar uma cruzada, recorrendo a todos os meios possíveis, para travar a ascensão do movimento de King e de outras associações. A sua arma era o uso da força e da violência, de forma a criar um clima de medo generalizado, para manter a submissão e impedir o progresso da consciência cívica da nação.

Contudo, foi nesses ataques violentos que Martin Luther King revelou encarnar a verdadeira força da não-violência. A 30 de Janeiro de 1956, Martin discursava numa Igreja para encorajar o boicote de Montgomery, até que alguém o avisa sobre a sua casa atacada à bomba. Martin, ao chegar a casa, encontra-a ainda a arder sob escombros, e uma multidão crescente de pessoas furiosas, armadas e prontas para descarregarem a sua raiva sobre a polícia, os bombeiros e sobretudo o presidente da câmara e o chefe da polícia da cidade.
Depois de se tranquilizar, após saber que a sua esposa e filhos escaparam ilesos ao atentado, Martin subiu ao alpendre da sua casa em ruínas e diz: “Está tudo bem! Aquele que vive da espada perecerá pela espada. O meu desejo é que ameis os vossos inimigos. Sede bons para eles. Amai-os e mostrai-lhes que os amais”.
(…) O que estamos a fazer é justo. E Deus está connosco. Ide para vossas casas com esta fé calorosa e com esta radiosa certeza. Com amor nos vossos corações…”.

De súbito a multidão dispersou. De início, uma turba perigosa e enfurecida, agora regressava a casa cantando o espiritual negro “Amazing Grace”. Mais tarde um polícia branco da cidade, e que tinha estado naquela noite a enfrentar a multidão, comentaria: “se não fosse aquele pregador preto teríamos todos morrido”.

Noutra ocasião, após o boicote de Montgomery, Martin fundara oficialmente o seu movimento: o SCLC (Conferência de Liderança Cristã Sulista). Não se podia perder tempo. Contra alguns dos seus conselheiros mais próximos que apelavam à “prudência” e “paciência”, Martin afirmava que os afro-americanos já tinham esperado tempo demais pela sua liberdade e igualdade de oportunidades.

Por isso era preciso aproveitar a oportunidade dada pelo Supremo Tribunal de Justiça e avançar com novos protestos à escala nacional. Desta vez, proclamava a “Cruzada pela Cidadania”. Desejava forçar as instituições a cumprir a lei do pós-guerra que permitia o recenseamento eleitoral de afro-americanos. Para tal definiu como objetivo duplicar o número de eleitores afro-americanos do Sul até às eleições de 1960.

Dizia: “Dêem-nos o voto e nós encheremos as assembleias legislativas com homens de boa vontade. (…) Dêem-nos o voto e nós, tranquila e não violentamente, sem rancor ou amargura cumpriremos a decisão do Supremo Tribunal de 17 de Maio de 1954 (…) O relógio do destino está a esgotar-se. Temos de agir agora, antes que seja demasiado tarde”.


Certo dia em Harlem, enquanto assinava autógrafos na recente edição “Caminhar para a Liberdade” do seu relato sobre o boicote de Montgomery, uma mulher negra, Izola Curry, aproximou-se dele sentado e perguntou-lhe: “Você é Martin Luther King? Luther King, ando há cinco anos atrás de ti”, e enquanto falava enterrou-lhe no peito uma faca afiada de abrir cartas, perfurando-o a rasar a artéria aorta. Martin correu sério risco de vida, e depois de uma longa operação, recuperou no hospital de Harlem. Coretta, sua mulher, acompanhava-o todo o tempo, e King, tendo-se informado a respeito da vida enfadada e da loucura de Izola, disse à esposa: “Coretta, essa mulher precisa de ajuda. Ela não é responsável pela violência. Não faças nada contra ela, não a processes, garante que seja tratada.” E assim aconteceu. Por respeito ao desejo de King, Izola não foi condenada e recebeu posteriormente os melhores cuidados médicos num hospital de especializado na reabilitação de pessoas alienadas.


Entretanto, Bayard Rustin, um ativista comunista, tornou-se amigo próximo de Martin Luther King. Era um adepto incondicional da não-violência e tinha trabalhado com o Partido de Gandhi na Índia, com um longo historial de detenções pelas marchas de protesto que organizou desde os anos 30 contra a segregação racial e as desigualdades sociais na América.
Rustin, de ideologia comunista estava proibido pelos conselheiros e membros do SCLC a associar-se publicamente a King, pois isso podia destruir-lhe a reputação. Contudo, secretamente, Martin e Rustin partilhavam uma estreita ligação. E assim Martin adquiriu um conhecimento profundo sobre as estratégias do movimento de Gandhi, e de muitas táticas de desobediência civil e não-cooperação pacíficas para desarmar os opressores.

Martin  diria mais tarde:

“O movimento foi desde o início guiado por uma filosofia. Um princípio (…) designado de muitos modos: resistência não-violenta, não cooperação, resistência passiva. Foi o Sermão da Montanha, e não qualquer doutrina de resistência passiva que começou por inspirar os Negros de Montgomery (…).
Porém com o passar do tempo, a inspiração de Mahatma Gandhi começou a exercer a sua influência. Para mim, tornou-se claro desde cedo que a doutrina cristã do amor, posta em prática pelo método da não-violência de Gandhi, era uma das armas mais poderosas de que o Negro podia dispor na sua luta pela liberdade.(…)
Cristo dava o espírito e motivação, enquanto Gandhi contribuía com o método.”


Em homenagem a Gandhi, e rendido de admiração pelo líder indiano, mais tarde em Fevereiro de 1959 Martin Luther King viajaria à Índia num encontro com o primeiro ministro Nehru. Graças a ele, ganharia novo fôlego pelo movimento dos Direitos Cívicos.





Porém, a ligação de Martin a Rustin custou-lhe caro, convertendo-o num alvo de investigação do FBI, nessa altura liderada pelo perigoso e esquizofrénico J. Edgar Hoover, obcecado pelo moralismo e perseguidor implacável à “ameaça comunista”. A partir dessa altura, Martin Luther King estava a ganhar inimigos poderosos…

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Memória do Profeta Martin Luther King [3] – O GRITO DE LIBERDADE EM MONTGOMERY



“Aceitar passivamente um sistema injusto é cooperar com esse sistema […]. A não-cooperação com o mal é tanto uma obrigação moral como o é cooperar com o bem”
Martin Luther King, Montgomery, 1956




Desde o final da Segunda Grande Guerra, os EUA ocupavam um protagonismo mundial, e no intuito de se demarcarem do comunismo da União Soviética, precisavam de ganhar influência e passar a mensagem ao mundo de um país plenamente democrático. Assim, no período pós-guerra foi aberta a possibilidade dos afro-americanos recensearem-se e poderem votar, e em 1954 o Supremo Tribunal americano decretou o fim da segregação racial nas escolas públicas, declarando-a inconstitucional.

Porém, a mentalidade não tinha mudado. O racismo e a segregação continuavam tão presentes como no século passado, e eram sobretudo mais frequentes nos Estados do Sul. Na prática, estava tudo na mesma.

Martin Luther King, ao lado do ministro Ralph Abernathy, ao chegar à congregação da Avenida Dexter incentivou cada membro a recensear-se e filiar-se no NAACP (Associação Nacional para o desenvolvimento de pessoas de côr), associação à qual King recentemente pertencia e prestava serviço.

Naquele tempo, a segregação fazia sentir-se de muitos modos em todos os estados americanos, mas no caso de Montgomery a opressão racista era pior nos transportes públicos. Os afro-americanos muitas vezes, pagando bilhete, eram logo a seguir expulsos dos autocarros quando andavam lotados. Os lugares da frente pintados de branco reservavam-se aos brancos. Nenhum negro podia lá sentar-se, ainda que fossem vazios. Os restantes (em minoria) pintados de negro eram os únicos disponíveis, a não ser que houvesse um branco no autocarro de pé – nesse caso o negro era forçado a ceder-lhe o lugar. Muitos afro-americanos eram insultados, por vezes espancados, durante essas viagens pois havia motoristas e trauseuntes que gostavam de exibir o seu ódio racial. A polícia e a Câmara nada faziam: era “a normalidade”.

Certo dia, uma senhora afro-americana, Rosa Parks, resolveu desafiar o sistema. Porque se recusara a ceder lugar a um branco, permaneceu sentada até ser detida pela polícia local. No dia seguinte a notícia espalhou-se pela comunidade negra e a indignação rebentou. Distribuíam-se milhares de panfletos a encorajar os afro-americanos a caminharem a pé e boicotarem as viagens de autocarro. Entretanto, uma litigação já tinha sido entregue ao tribunal.

Porém, todos temiam a supremacia racista. Foi aí que apelaram a ajuda do ministro Martin. Tinham-no escolhido por ser moderado e culto, mas ao mesmo tempo ousado, e confiavam na sua diplomacia. Ao formarem o MIA (Associação para o Progresso de Montgomery) nomearam Martin Luther King como líder e cabeça de cartaz para levar as reivindicações da comunidade negra à empresa de autocarros e às entidades públicas da cidade.

Aquele caso inflamara Martin até á flor da pele. Então numa noite, a Associação juntara uma multidão para incentivar a comunidade a um boicote generalizado. Contavam com Martin para um discurso, e Rosa sentara-se a seu lado. Nessa noite, Martin Luther King insuflou esperança e um sentido de dignidade à assembleia como nunca antes visto. Fora como uma lufada de ar fresco numa comunidade deprimida por anos e anos de humilhações.
Passo a transcrever o discurso:

“Sabem, meus amigos, chega uma altura, chega uma altura em que as pessoas ficam cansadas – cansadas de serem segregadas e humilhadas, cansadas de serem pisadas pelos pés de ferro da opressão.
Chega uma altura, meus amigos, em que as pessoas ficam cansadas de serem lançadas no abismo da humilhação, onde experimentam a tristeza de um enervante desespero. (…)
Não temos outra alternativa senão protestar. Durante muitos anos temos mostrado uma espantosa paciência. Por vezes demos aos nossos irmãos brancos a sensação de que gostávamos da maneira como éramos tratados. Mas viemos aqui esta noite para nos livrarmos dessa paciência que nos torna pacientes com tudo menos a liberdade e a justiça.
A grande glória da democracia americana é o direito de protestar por aquilo que está certo.”
[Nessa altura a multidão levanta-se, e muitos gritam-lhe: “continua a falar”. Criava-se uma expectativa no ar, e após uma pausa Martin prosseguiu:]

“Se estamos errados então o Supremo Tribunal desta nação está errado!
Se estamos errados então Deus Todo-Poderoso está errado!
Se estamos errados, então Jesus de Nazaré não passava de um sonhador utópico e nunca desceu à terra!
Se estamos errados então a justiça é uma mentira!
E nós estamos determinados, aqui em Montgomery, a trabalhar e a lutar até que a justiça escorra como uma torrente de água e a retidão como um ribeiro poderoso!”

[Palmas, as vigas do teto abanam. Levantando os dois braços Martin continua:]

“Se protestarem com coragem e todavia com dignidade e amor cristão, quando os livros de História forem escritos em futuras gerações, os historiadores terão de parar e dizer: ‘Existiu uma raça de gente, gente negra, de cabelo anelado como lã e tez negra, de gente que teve a coragem moral de defender os seus direitos. E desse modo injetaram um novo significado e uma nova dignidade nas veias da civilização”

A partir daquela noite a comunidade negra ganhou um ânimo e uma união como raramente se tinha visto. Em Dezembro de 1956 é marcado um encontro entre o MIA chefiado por King e os membros da comissão da cidade. King delineou três exigências à cidade e empresa de autocarros: a contratação de motoristas afro-americanos, lugares para os afro-americanos desde da parte de trás até à frente do autocarro, sem reservas a raças; nenhum negro seria obrigado a ceder lugar.
A empresa de autocarros rejeitou a proposta, exigindo à MIA que recuasse. King, determinado e inflexível disse que não abdicariam dessas exigências pois eram conformes à dignidade dos afro-americanos.

Então, durante um penoso e longo ano, o braço de ferro manteve-se firme entre a Câmara de Montgomery, a empresa de autocarros e a comunidade negra, representada por King. Martin não parava de organizar marchas de protesto, assembleias onde constantemente apelava à resistência e perseverança. Não era nada fácil. Os afro-americanos durante quase um ano, tinham de se deslocar kilómetros a pé, organizavam um sistema de partilha voluntária de carros e táxis, e ninguém apanhava autocarros. Em retaliação, os polícias da Câmara faziam operações stop aos carros de boleia e multavam-nos por coisas insignificantes. Os patrões castigavam e até despediam os seus funcionários de cor quando chegavam atrasados ao trabalho. Mas King mantinha os afro-americanos unidos, alimentava-lhes esperança e determinação.

King incentivou que nas Igrejas voluntários demonstrassem técnicas de não-violência baseadas nas técnicas de Ghandi. Martin dizia: “trata aqueles que te desprezam como entidades sagradas” e lembrava que havia um objetivo maior por detrás deste boicote, pois acrescentava: o objetivo é a reconciliação; o objetivo é a redenção; o objetivo é a criação da comunidade dos bem-amados”; “continuaremos a protestar com o mesmo espírito de não-violência e de resistência passiva, usando a arma do amor”.

A uma dada altura a polícia dispersava os manifestantes e mandava prender aqueles que participavam nas marchas. Martin Luther King que as comandava na linha da frente era preso juntamente com os seus “irmãos”. Recebia telefonemas anónimos e ameaças de morte, mas nada o fazia parar. Sentia no seu íntimo o apelo de Cristo, que estaria sempre com ele, que lutasse sempre pela justiça e a verdade.

Montgomery já andava na boca de toda a América. Tinha-se convertido num enorme movimento cívico organizado e não-violento que nenhuma opressão do mundo podia parar. Na altura, um livreiro branco da cidade dedicou um artigo publicado no jornal local:

“É difícil imaginar uma alma tão morta, uma visão tão cega e mesquinha a ponto de não ser tocada pela admiração da tranquila dignidade, disciplina e dedicação com as quais os negros têm dirigido o seu boicote. A causa deles e a sua conduta têm-me enchido de grande simpatia, orgulho, humildade e inveja. Invejo a sua unidade, o seu bom humor, a sua força moral e a sua disponibilidade para sofrerem por grandes princípios cristãos e democráticos”

Passados meses de provação heroica, a cidade começava a rebentar pelas costuras por causa do boicote: cada vez mais donas de casa apresentavam queixas à Câmara porque as suas criadas negras não apareciam para fazer limpezas ou cozinhar, vendo-se obrigadas a dar-lhes boleia; as lojas da baixa da cidade acumulavam perdas, e a empresa de autocarros já não suportava uma perda de mais de 2500 dólares por dia; os membros do Ku Klux Klan já não assustavam negros e quando apareciam para aterrorizar caiam no ridículo de serem completamente desprezados por um grupo organizado de gente de cabeça erguida e pacífica.


Finalmente, apesar de um atentado à bomba à residência da família King, e tantas outras perseguições generalizadas, a Câmara e a empresa de autocarros não tiveram mais nenhuma saída senão ceder às condições do MIA. Tinha sido estabelecido um marco histórico, comparável à pacífica revolta do sal de Gandhi na índia. Montgomery já não era a mesma, e brevemente a América também não…