domingo, 12 de setembro de 2010

6 BILIÕES COMO TU - " A FELICIDADE" II



«Experimentei uma alegria imensa recentemente quando trabalhava num orfanato. Havia lá uma menina que tinha sido abandonada aos 11 meses, ainda bebé. Fora abandonada na rua, e as irmãs no orfanato adoptaram-na e receberam-na. Então esta pequena bébé estava muito, muito triste, e chorava. E eu estava tão comovida por ver esta criancinha a experimentar tanta tristeza ainda tão nova. Todos os dias ia vê-la, a ver se conseguia pô-la a sorrir, ou a fazê-la dançar…e finalmente, passadas duas semanas, ela fitou-me com um sorriso magnífico. Foi aí que senti pura alegria!»
SUIÇA






«Eu penso que o melhor momento da minha vida aconteceu quando estive recentemente no Iraque, com o exército. E ali havia gente local a trabalhar na base, que não sabia falar inglês. Uma vez, um pai e o seu filho vieram à cave para reparar a electricidade. Todos os dias almoçávamos juntos e falávamos sobre tudo. Eu falava somente em inglês, e eles falavam somente em árabe. Algumas vezes fazíamos desenhos, mas sempre sabíamos do que falávamos, e foi aí que percebi que a linguagem não é uma barreira. Nós podemos comunicar sem falar a mesma língua. E isso mudou toda a minha vida, só por o entender.»
EUA, Los Angeles







«Eu, de facto, gosto de dar. Porque sinto que se faço as pessoas felizes, eu sou feliz. Talvez seja uma espécie de egoísmo. Não sei. Porque queres ser feliz, por isso, ou dás ou ajudas; não sei se é isso, mas eu quero ser feliz, por isso, faço as pessoas felizes.»
SUIÇA










«Eu sou infinitamente feliz, porque tenho um grande marido. É como se tivesse uma arca cheia de ouro em casa. É verdade! Perguntem aos meus vizinhos: ele é como uma arca cheia de ouro. Ele respeita-me e eu respeito-o; até mesmo quando comete erros, como por exemplo, quando faz apostas de futebol. Ele não diz nada, limita-se a pagar. Eu aturo isso. Eu amo-o e sigo-o...»
CAMBODJA









«A minha felicidade é estar com a minha namorada. Ela faz-me feliz. Ela mantém-me afastado do álcool, do tabaco, e outras coisas más. Ela diz-me o que fazer da minha vida, dá-me inspiração e confiança.»
ÁFRICA DO SUL










«Eu não sei…tive tantos momentos maravilhosos. E às vezes os melhores momentos nem sempre são conhecidos no tempo em que ocorrem. Por vezes, uma tragédia é o melhor momento, tu não o sabes na hora. Outras vezes, quando te magoam, ou és travado na tua ambição, ou acordas do teu ego, ou da tua cobiça, e estás a sofrer. Às vezes é esse o mais importante e o mais feliz momento da tua vida, porque é aí que te encontras em alerta, de olhos abertos, e sincero, talvez pela primeira vez a respeito de certos aspectos sobre ti mesmo. A vida não é um problema para ser resolvido. Eu penso que a vida é antes um mistério a explorar. E por isso, ainda não sei qual o melhor momento da minha vida. Tenho a certeza absoluta que ainda está para vir, ainda estou à espera.»
EUA, Los Angeles (Actor de Hollywood)








«Felicidade…
A felicidade é…
Felicidade é a verdade.
Felicidade é…dizer a verdade e saber que foi ouvida.
Felicidade é ver a justiça a ser feita.
Felicidade é ver uma criança a comunicar com a sua imaginação, e deixá-la correr livremente. Felicidade é dançar, felicidade é um mango.
Felicidade é…oohh…a felicidade está potencialmente em todos os momentos.
A felicidade está tão perto, tão perto, tão perto de nós o tempo todo.
Nós conseguimos fazer sorrir uma criança tão facilmente. E é aí que a felicidade salta fora daí mesmo.
Oohh, a felicidade está em toda a parte, mas não é algo grande, ou barulhento.
A felicidade não é uma coisa expansiva.
Felicidade é uma pequena e serena relação humana»

EUA, Los Angeles

domingo, 5 de setembro de 2010

6 BILIÕES COMO TU - " A FELICIDADE" I



Hoje partilho neste espaço algo diferente: Veio até mim, inesperadamente, numa tarde de Verão, depois de almoço e do telejornal do canal 2. Esta série documental deixou-me simplesmente encantado e boquiaberto pela tremenda simplicidade, e densidade humana que emana.

Bom! Não vou ceder à tentação de descrevê-lo ou dar demasiadas explicações por postá-lo aqui. O programa falará por si mesmo, assim, sem mais…




O PROJECTO “6 billion others”…


«Um conceito simples: Partir ao encontro de 6 biliões de habitantes do planeta, escutar as suas histórias, e partilhá-las connosco.
Nos últimos 15 anos Yaan Arthus-Bertrand passou milhares de horas a sobrevoar o planeta, maravilhando-se com a sua beleza infinita, profundamente comovido pela sua óbvia fragilidade.


Tudo parece tão simples visto do céu, mas lá baixo somos confrontados pelas fronteiras, antagonismo, separações, mal-entendidos, ignorância entre uns e outros. Por isso era tão importante deixar que mulheres e homens do nosso planeta se expressassem, recolhendo as suas experiências e filosofias de vida, as suas visões do mundo e partilhar com eles. Neste caso, 5000 homens e mulheres descrevem vidas e esperanças, as suas alegrias e angústias, riso e lágrimas e relações com Deus, o diabo, amor, vida, morte, e por aí além…

O pescador Mali, o trabalhador brasileiro, a mulher arménia, o guerreiro afegão, o padre alemão, o agricultor americano, o mercador russo, o rebelde japonês, o varredor de rua australiano, o refugiado ruandês…todos eles falam connosco (…)
Vamos ficar à escuta, onde nos sentiremos tão parecidos e ao mesmo tempo tão diferentes, tão próximos e tão distantes de todos os habitantes do planeta»


PRESS KIT 6 billion Others
A project by Yann Arthus-Bertrand
produced by Baptiste Rouget-Luchaire and Sibylle d’Orgeval




FELICIDADE...
(alguns testemunhos)








«A felicidade? Gritando, talvez, que sou feliz, porque também não há palavras para dizê-lo…»
BOLÍVIA











«Eu não sei se sou feliz. Os franceses têm uma expressão: ‘sentires-te bem na tua pele’. Eu quero isso»
ROMÉNIA










«O que é a felicidade? A felicidade é encontrar novidade em tudo o que fizeres todos os dias. Repetindo o dia anterior, começando de novo como se fosse a primeira vez»
ITÁLIA










«No outro dia tive esta ideia, - que soa mesmo tola -, tinha esta ideia que qualquer coisa fabulosa ia acontecer-me; todos os dias! E pensei: ‘ e se todos os dias eu pensasse: UAU! Alguma coisa fabulosa vai-me acontecer hoje!’. Isto soa a cliché, mas a verdade é que durante o dia inteiro só me perguntava: ‘Uau, mas que coisa espantosa vai-me acontecer? Será que já aconteceu? Será que a perdi, ou ainda está para acontecer?...’»
ESTADOS UNIDOS, Los Angeles










«A coisa que me faz mais feliz na minha vida é acordar de bom humor pela manhã! Quando isso acontece, tenho o dia ganho! Tudo que acontecer durante o dia será um triunfo…»
ITÁLIA










«Ah, o conceito de felicidade. Por exemplo, depois de um dia de trabalho, regresso a casa e a minha mulher preparou-me um jantar maravilhoso que me delicia. Isso é felicidade, apesar do meu cansaço. Eu adoro passar tempo com a minha querida família, especialmente com a minha filha que me conta como lhe correu o dia na escola: faz-me muito feliz.»
CHINA, Pequim









«A felicidade? A felicidade são pequenos momentos na vida. Pequenos momentos… Se não te deres conta quando passam, passou e nem te apercebeste. É como um jogo de palavras, um pouco filosófico. São pequenos momentos, de muito, muito, muito grande importância; porque não acredito que nenhum ser humano conheça a felicidade completa. Não me parece.»
CUBA








«Para mim, a felicidade, é ver os meus pessegueiros crescer, e ganhar a vida com eles. Isso faz-me feliz. E que os meus filhos já são crescidos, isso faz-me feliz.»
BOLÍVIA













«O que me faz feliz é ter água. É o elemento básico para toda a actividade humana. Eu sou feliz por ter água. As pessoas vêm a minha casa porque tenho água. E fico feliz por isso.»
MADAGÁSCAR













«Claro que há muitos….mas, o momento que mais alegria me deu foi partilhar com a minha avó uma tarde no terraço, onde ela me ensinava a fazer croché com uma agulha, e ela sentia que me ensinava algo muito importante para mim…e…foi um momento bonito.»
BOLÍVIA






Continua...

domingo, 29 de agosto de 2010

COMO JESUS VIVIA DEUS






«Tu estás interessado por Deus. É natural que te interrogues se crês nele ou se a tua fé vai-se apagando a pouco e pouco. Mas o importante e decisivo é perguntarmo-nos em que Deus cremos e como o vivemos; que lugar ocupa na nossa vida e como a transforma no nosso dia-a-dia.


Já sabes o que se passa frequentemente connosco, os crentes. Dizemos que “cremos” em Deus, mas na prática vivemos de um modo ateu: como se Deus não existisse. Na hora da verdade, Deus apenas tem importância na nossa maneira de orientar e organizar a vida.


Certamente tu mesmo conheces alguns cristãos cuja vida pouco ou nada mudaria se algum dia deixassem de “crer” em Deus. Talvez deixassem de ir à missa, mas o seu comportamento, o seu modo de pensar e de actuar não mudaria muito. Deus apenas significa algo na sua vida.


Já te perguntaste alguma vez como Jesus vivia Deus? Pode-te fazer bem conhecer melhor a sua experiência. Para ele, Deus é um estímulo que o impele a construir um mundo mais humano. Deus não é uma força conservadora, mas um apelo a mudar e melhorar as coisas. Se um dia te deixares apanhar por Deus, sentir-te-ás chamado a trabalhar por uma sociedade mais justa e mais digna para todos. Serás incapaz de ficar passivo. Deus tem um grande projecto. Há que construir uma nova terra, tal como ele a deseja.


Segundo Jesus, Deus quer a vida, está sempre do lado das pessoas e contra o mal e o sofrimento. Vive Deus como uma força que o impele a libertar as pessoas do mal e leva-o a lutar contra tudo o que magoa alguém. Por isso, Jesus dedica-se tanto a lutar contra as injustiças, abusos, mentiras, poderes e sistemas que desumanizam a vida e geram sofrimento. Quanto mais creres no Deus encarnado em Jesus, com mais força e coragem trabalharás contra tudo o que estropia a vida e a torna mais indigna e infeliz para muitos.


Jesus vive Deus como uma força curadora. A Deus interessa-lhe a saúde dos seus filhos e filhas. Por isso Jesus se dedica a curar, a aliviar o sofrimento e a sanar a vida do seu povo. Deus deseja uma vida mais sã, mais feliz e mais amável para todos. Se tu crês no Deus de Jesus, hás-de aproximar-te das pessoas que sofrem. Farás o possível por trazer a paz e a alegria àqueles que vivem tristes. Semearás força e esperança nos que se encontrem deprimidos. Saberás consolar e acompanhar.


Deus é, antes de mais, para os pobres, os indefesos, os que não têm ninguém. Era assim que Jesus viva Deus. Por isso defende os pobres dos poderosos que os exploram, acolhe as crianças apertando-os contra o seu peito, abençoa os que sofrem. Jesus dedica-se a todos, mas começando sempre pelos últimos. Se te sentires um dia mais cheio de Deus, irás preocupar-te mais pelos últimos, os mais débeis, os mais desvalidos, os mais solitários. Talvez não possas fazer grandes coisas, mas o teu coração estará com eles.



Deus conduz Jesus a acolher os excluídos. É impossível que seja de outra maneira. Deus é de todos e para todos. Não descrimina, não exclui, não excomunga ninguém. Pelo contrário, Deus abraça, acolhe, perdoa. Por isso Jesus aproxima-se dos impuros, acolhe as mulheres, toca os leprosos, come com os pecadores e indesejáveis. Se te deixares agarrar pelo Deus de Jesus, verás a vida de outra maneira. Aproximar-te-ás de forma mais acolhedora dos imigrantes e excluídos. Serás mais compreensivo com os delinquentes e toxicodependentes. Pensarás naqueles que estão condenados a viver praticamente o resto da sua vida na prisão.


Se a tua fé em Deus crescer, a tua vida irá mudando. Quase sem dares-te conta, tornar-te-ás mais humano, mais generoso e mais justo. Entrarás em ruptura com o teu egoísmo. Pensarás nos outros. Vais-te interessar pelos que sofrem. Tratarás de os ajudar. Apoiarás campanhas contra a fome e as injustiças. Aprenderás a fazer pequenos gestos pelos demais. Deus irá transformando-te.»


Creer, para quê? - Como Jesús vivía Dios
José Antonio Pagola






José Antonio Pagola, foi vigário episcopal da diocese de San Sebastian durante mais de vinte anos, e professor na Faculdade de Teologia no Norte de Espanha. Actualmente é director do Instituto de Teologia e Pastoral de San Sabastian, partilhando a sua fé e a sua experiência com grupos de crentes e muitos outros que perderam a fé.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

COMO JESUS SENTIA DEUS?


«Tu tens a tua ideia de Deus. Vives e a sentes de uma determinada maneira. Só tu sabes as reacções que despertam dentro de ti. Atrai-te? Assusta-te? Deixa-te frio ou indiferente? Sentes-te bem com ele? Ou fazes o possível para esquecê-lo?


Não sei se alguma vez pensaste como Jesus sentiria Deus. Para os cristãos é algo muito importante, pois a nossa fé brota da própria experiência de Deus que vive Jesus. E Jesus vive seduzido pela bondade de Deus. Para ele, DEUS É BOM.


Isto é o primeiro e mais importante. Jesus capta o mistério de Deus como um mistério de bondade. Não necessita de apoiar-se em nenhum texto das Sagradas Escrituras. Para ele é uma experiência indiscutível. Deus é uma presença boa que bendiz a vida.


O que caracteriza Deus não é o seu poder. Não é como Júpiter, Apolo, ou Saturno. Não é como as divindades pagãs do império romano, que aterrorizavam os seus fiéis. O que caracterizava Deus não é tampouco a sabedoria, como se pensava em alguns sectores da Grécia. Jesus sente Deus de outra maneira. O mistério último de Deus, o que nos escapa, Jesus capta-o como um mistério de bondade. Deus é bom, deseja-nos muito e somente procura o nosso bem. Tu o sentes assim?


Este Deus bom é um Deus próximo. Jesus vive esta proximidade de Deus com uma simplicidade e espontaneidade assombrosas. O Pai cuida até das criaturas mais frágeis, revela-se aos pequeninos, busca os perdidos. Este Deus encontra-se no núcleo da vida.

Para Jesus, tudo isso não é teoria. Deus está próximo e acessível a todos. Qualquer um pode comunicar-se com ele de maneira directa e imediata desde o mais íntimo do seu coração. Deus fala a cada um sem verbalizar palavras humanas. Até os mais pequenos podem descobrir a sua bondade.



Para o encontro com Deus não é preciso socorreres-te de ritos complicados, nem pronunciares orações solenes. Jesus convida todos a viver confiando num Deus bom e próximo: “Quando orais, dizei: Pai!” Tu sentes Deus assim? Como um Paizinho tão próximo?



Este Deus é bom com todos, não só com os bons. Muitos eram os dias em que Jesus vislumbrava o amanhecer enquanto se encontrava em oração, falando com o seu Pai. Não sabemos como viveria esse momento, mas gostava tanto de dizer: “Deus faz brilhar o sol sobre os bons e os maus. Envia a chuva sobre os justos e injustos”. O sol e a chuva são de todos. Não têm dono. Deus oferece-os a todos como um presente. A ideia de Jesus é clara. Deus não é como nós. Não segue a nossa tendência de descriminar os maus. Deus não é propriedade dos bons. Não pertence somente aos praticantes. O seu amor está aberto a todos, também aos maus.



Esta fé de Jesus na bondade universal de Deus para com todos surpreendia e escandalizava muitos. Durante séculos, tinham escutado em Israel algo completamente diferente. No povo judeu fala-se com frequência do amor de Deus, mas esse amor, havia que merecê-lo. Assim diz, por exemplo, um salmo muito famoso: “Como um pai sente ternura para com os seus filhos, assim sente o Senhor ternura”, mas, por quem? O salmo continuava assim: “…sente ternura para com aqueles que o temem”. Mas, Jesus teria dito: “… sente ternura para com todos os seus filhos”.


Seguramente ouviste muitas coisas acerca de Deus e vais continuar a ouvi-las. Algumas te farão bem, outras nem por isso. Mas tu escuta Jesus! Fixa-te no modo como fala de Deus. Repara como acolhe os pecadores e indesejados. Vai gravando isto no teu coração: Deus é bom e quer-me muito; Está próximo de mim e acompanha-me; Deus ama a todos, ama-me a mim, mesmo antes de eu mudar. E assim, cada vez te sentirás mais atraído por ele.


Se fores conhecendo cada vez melhor Jesus e captares bem a sua bondade com todos, o seu acolhimento e o seu perdão para com os pecadores, a sua proximidade com os enfermos, a sua defesa em favor dos pobres, o seu acolhimento aos excluídos, a sua doação de vida até à morte…descobrirás pouco a pouco que o mistério de Deus incarnou em Jesus e nos foi revelado nele de maneira suprema, única e irrepetível.»





Creer, para quê? - Como sentía Jesús a Dios?
José Antonio Pagola

domingo, 22 de agosto de 2010

A DEUS INTERESSA-LHE QUE SEJAS FELIZ











«Estás seguramente convencido de que, se existe, Deus é bom. Mas está tão distante e é tão grande que provavelmente preocupa-se pouco ou nada com a tua vida concreta. Será que lhe interessa mesmo que sejas feliz este fim-de-semana? Poderá Ele estar interessado que te saia bem esse projecto de trabalho que te tem ocupado tantas horas?


Desde criança, da mais tenra idade, foi-se apossando de ti a ideia que em tudo isto da religião há dois mundos de interesses. Por um lado, está aquilo que interessa a Deus, e por outro lado, o que nos interessa de verdade, homens e mulheres que dia-a-dia lutamos por viver o melhor que podemos.


A Deus interessa-lhe a sua “glória”, isto é, que as pessoas creiam nele, que o louvem e que cumpram a sua vontade divina. Isso é o que Deus quer e busca: que a gente o receie, que lhe preste culto e pratique a religião. Assim Deus sente-se “bem” recebendo das suas criaturas honra e glória.

Por outro lado está o que de verdade nos interessa: ter um trabalho, partilhar uma vida feliz com um cônjuge, acertar com os filhos, viver bem, divertirmo-nos, desfrutar de uma sociedade em paz. Essa é a esfera dos nossos interesses, donde nos esforçamos por viver o melhor possível.


É fácil que também tu, como muitos outros, penses assim. A Deus interessa-lhe “o que é seu” e trata de pôr as pessoas ao seu serviço. Impõe os seus dez mandamentos – como podia ter imposto outros, ou até nenhum – e está atento a como os humanos lhe respondem. Se lhe obedecem, premeia-os; caso contrário castiga-os. Como é Deus e Senhor supremo do mundo, também concede favores. Às vezes, gratuitamente, aos que ele bem entende; outras vezes, a troco de qualquer coisa, mas sempre procurando a sua própria glória.

Os homens e as mulheres, por seu turno, buscam os seus próprios interesses e tratam de pôr Deus do seu lado. Não é para isso que serve a religião? As pessoas que são religiosas pedem ajuda a Deus para que tenham sucesso, dão-lhe graças pelos favores que recebem dele; fazem o que podem para o manter satisfeito; inclusive oferecem-lhe sacrifícios e cumprem promessas para fazer com que ele mesmo se interesse pelos seus assuntos.
Assim pensam muitos crentes de boa fé. Mas, sem dúvida alguma, esta maneira de entender e de viver a fé é falsa. Deus é amor e somente amor. A Deus, o único que lhe interessa somos nós.


Esta talvez é a novidade mais importante que introduz Jesus na sociedade do seu tempo. Toma bem nota: segundo Jesus, para Deus o mais importante não é a religião, senão a vida das pessoas. Isto é o que o levou a confrontar-se com os líderes religiosos do seu tempo.


Para os sacerdotes de Jerusalém e os doutores da lei, o mais importante é dar glória a Deus, cumprindo a lei, respeitando o sábado e assegurando o culto do templo. Para Jesus, pelo contrário, o mais importante são as pessoas. Por isso se dedica a curar os enfermos, aliviar o sofrimento, acolher os leprosos e marginalizados, defender as mulheres, devolver a dignidade às prostitutas, bendizer e abraçar as crianças.


Se fores descobrindo, a pouco e pouco, como é Deus, a tua vida mudará. Sentirás que Ele não te ama buscando o seu próprio interesse. Somente pensa na tua felicidade. Até quando te chama a viver uma vida moral digna. Não te enganes. Não julgues que Deus quer estragar a tua vida. Ele quer que vivas o que é bom para ti, não o que te faz mal. Deus é assim.»



Creer para quê? - A Dios le interesa que vivas bien
José António Pagola


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

PEQUENEZ








«Ao longo destes anos encontrei-me com pessoas que se foram afastando de Deus porque já não suportavam ouvir constantemente que é “Omnipotente” e “Todo-Poderoso”. Sentiam-se mal diante desse Deus. Não podiam mais viver em paz com ele. Preferiam esquecê-lo.

Talvez também a ti se passe algo semelhante. Não te atreves a dizê-lo de forma absoluta, mas no fundo sentes Deus como um ser “prepotente”, que nos tem a todos sob o seu controle e ameaça. Não podes fugir dele. Estás nas suas mãos, ainda que não queiras. Como viverás a gosto com ele?


Este pode ser um dos nossos maiores erros. O poder de Deus não é como às vezes imaginamos.
Na realidade Deus não é “omnipotente”. Não pode fazer qualquer coisa. Deus não pode abusar de nós, não pode manipular, humilhar, zombar de ninguém. Deus não pode magoar-te nem fazer-te mal. Deus é amor e só pode o que o amor pode.


Repara, para agredir, para destruir, ou magoar não se necessita de um grande poder.Qualquer um pode fazer mal. Mas, para acolher, para perdoar, para respeitar, para amar, para fazer sempre o que é bom, já é necessário ser GRANDE. Deus é assim!

Por isso, ainda que às vezes nos custe crê-lo, Deus manifesta-se no pequeno, no frágil, no humilde. Deus é grande e não necessita defender-se dos seres humanos. É forte e não necessita de andar a exibir a sua força. É amor e não necessita de controlar, dominar nem esmagar ninguém.


É necessário recordar isto porque sempre que entre os cristãos se entendeu muito mal a omnipotência de Deus, e se exaltou falsamente o seu poder, converteram-no num “poderoso” indigno, para fomentar a intolerância, a repressão moral, o medo de Deus e o “terror religioso”.

Se, nalguma medida, sentes Deus como um “tirano”, e que não tens outra alternativa senão revoltar-te, quero dizer-te que esse Deus não existe. Estás a revoltar-te contra um “fantasma”. Andas a sofrer inutilmente.

Tudo mudará no dia em que sintas Deus como um amigo humilde, próximo e respeitador. Não te posso explicar com palavras, mas Deus é uma “presença” afável, próxima, que te faz viver e amar a vida de maneira diferente. Deus não te está a barrar caminhos ou a travar o teu desejo de seres plenamente feliz. Não está no teu coração a pressionar-te ou a violentar-te. É o teu melhor Amigo. Nele podes encontrar a luz mais clara e a força mais vigorosa para enfrentares a dureza da vida e o mistério da morte.


Deus não te vai gritar. Jamais te forçará. Jamais imporá sobre ti a sua força. Vai-te respeitar sempre, faças o que fizeres. Ele deu-te a vida como presente. É tua. És tu que tens de decidir como queres viver e para quê. Ele só quer que acertes a viver bem.

Às vezes, pode-te parecer que Deus é demasiado “invisível”. Não o sentes. Não o podes tocar. Não escutas a sua voz. Crês que não há ninguém ao pé de ti. Mas o que sucede é que Deus é discreto e respeita até ao fim as tuas decisões. A sua presença é tão humilde, próxima e íntima que pode passar despercebida.
Está tão unido a ti que, se não penetras em ti mesmo, pode-te parecer que estás sozinho.


E como posso encontrar-me com esse Deus? Não sei. Creio que há que buscá-lo de um modo simples, sem complicações, com um coração límpido e numa atitude confiada. Todos nós podemos dizer coisas muito acertadas. Mas só tu sabes o que te faz bem e o que te aproxima verdadeiramente desse Mistério a que chamamos Deus.


Não podemos esquecer a alegria de Jesus ao comprovar que a gente mais humilde e sincera era a que melhor captava a experiência de Deus. Numa ocasião deu graças a Deus com estas palavras: ‘Eu te Bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos, e as revelaste aos pequeninos’»


Creer para quê? - Dios es humilde
José António Pagola

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

CONFIAR




«Não sei se estarás de acordo mas, segundo tudo leva a crer, a desconfiança está a aumentar na sociedade contemporânea. São os inquéritos e as sondagens de opinião que o dizem. A gente desconfia cada vez mais dos colegas de trabalho e dos vizinhos. Desconfia da Administração, já não embarca nas promessas dos políticos. Vai retirando a sua confiança da Igreja. Já não se espera grande coisa de ninguém.


Os especialistas dizem que as causas são diversas.
A competitividade, a falta de comunicação, a insegurança perante o futuro estão a gerar um tipo de pessoa que se coloca na defensiva e toma sempre as suas “precauções”.
Não sei se é assim. O certo é que viver a partir de uma atitude desconfiada não ajuda ninguém a viver de maneira plena. Tu o sabes:
para enfrentar a vida de cada dia de maneira positiva e criativa há que viver com confiança.


Há uns anos li as cartas que Dietrich Bonhoeffer escreveu na prisão onde tinha sido colocado pelos nazis. Numa delas, escrita poucos dias antes da sua execução, o grande teólogo e mártir escrevia assim: “Não há nada pior que semear e favorecer a desconfiança; pelo contrário, devemos favorecer a confiança em toda a parte, sempre que possível. Ela seguirá sendo para nós um dos maiores dons, dentre os mais raros e belos”


Estou convencido de que é assim. É a confiança que te pode suster nas situações mais difíceis e que te dará sempre um grande potencial de energia para enfrentares os teus problemas. Se te deixas cair nas garras do cepticismo e do ressentimento, se vives desconfiado de tudo e de todos, irás-te empobrecendo. Viverás de um modo triste e estéril.


Quero recordar-te outra coisa. É difícil que a Fé em Deus possa brotar de um coração desconfiado. Já o pude comprovar muitas vezes, em conversas que tive com pessoas que andam à procura de Deus. Há muito que exigem provas e argumentos para crer, mas não se dão conta de que interiormente vivem “fechados” a Deus. E, quando uma pessoa não se abre a Deus, ou não se atreve a confiar totalmente nele, Deus não pode entrar na sua vida.

Também já assisti ao contrário. Pessoas simples, que depois de muitos anos de viver afastadas da fé, procuram a Deus não pelo caminho das provas, dos argumentos e dos livros, mas pela via do coração, numa confiança total nele (…).
Na tradição cristã, o apóstolo Tomé é tido como o protótipo do homem desconfiado que não aceita crer em Cristo ressuscitado enquanto não o vir com os seus próprios olhos e não o tocar com as suas próprias mãos. Não se fia de ninguém. Quer provas. Não sei se tens presente a cena que nos descreve o evangelista João. Quando Jesus se lhes apresenta, diz-lhe estas palavras: “Tomé, não sejas incrédulo, mas fiel”.


Quem sabe se tu não estarás cheio de dúvidas. Cada vez te parece mais difícil crer em certas doutrinas. Percebes que há coisas na Igreja que nunca poderás aceitar. Sentes dentro de ti com certa insipidez e mal-estar. Já sabes que nunca poderás compreender a Deus com a tua mente mas, perguntas-te tu, não haverá alguma prova ou algum argumento definitivo?

Eu só sei dizer-te as palavras de Jesus: “Não sejas incrédulo, mas fiel”. Confia, não feches nenhuma porta. Procura a Deus com confiança. Não desanimes.
A Deus procura-se “às apalpadelas”. Por vezes, a fé mais sincera surge da dúvida mais penosa.

O que importa é que te aproximes do mistério de Deus de coração aberto. Não estejas à espera de resolver pela tua própria cabeça as interrogações e as dúvidas que te fazem sofrer. Mesmo no meio da escuridão, das dúvidas e das incertezas pode despontar em ti a fé, se souberes abrir-te a Deus com humildade e confiança.»


Creer, para quê?
Jose Antonio Pagola

CRER E PERGUNTAR





Olá! Já passou imenso tempo desde que não passo por cá…



Mas por razões pessoais, e sobretudo profissionais, não me foi possível ir actualizando este blog. Contudo, isso não significa que desista das coisas boas que comecei por cá! Por isso, hoje, para “sacudir o pó”, começo por revelar um pouco das leituras que venho fazendo.

Trata-se de um livro muito interessante de um teólogo que aprecio: Antonio Pagola. Escreveu estas páginas dedicadas especialmente àqueles que “perderam a fé”, e partilho-o aqui simplesmente porque, com uma linguagem muito simples, Pagola tem um jeito especial de experimentar a fé como se fosse a primeira vez, ainda que muitas das coisas já nos pareçam tão familiares…

Mas a Fé não é coisa de “saber”, senão aquilo que se “saboreia” e dá sabor. É aquele sal da terra, e gosto pela vida, que brota duma relação e de uma história de amizade que um dia Deus mesmo começou connosco…



«Provavelmente tu não rejeitas Deus. (…) O que acontece é que não consegues crer, nem vês para que te pode servir a fé. Então, porque não começarmos por esclarecer algumas coisas?

Poderá alguém ser forçado a crer? Não. Ninguém te pode obrigar a crer a partir de fora. Tens que te sentir absolutamente livre. Tu és o único responsável pela tua vida. És tu que tens que decidir como queres viver e como queres morrer. A única coisa que podemos fazer é dialogar entre nós, partilhar honestamente as nossas experiências e ver se nos podemos ajudar um pouco a acertar na vida.

Temos que fazer algo para crer? Sim, desde já. Não chega falar destas coisas de maneira indiferente ou frívola. Também não é suficiente deixar-te arrastar pela tradição. És tu mesmo que tens de aprender a sentir-te a gosto com Deus. Para começar, estar mais atento ao que vai dentro do teu coração, e atrever-te a escutar as interpelações que brotam do teu interior.


Haverá algum método para crer? Não. Cada pessoa tem que percorrer o seu próprio caminho. Não existem receitas nem fórmulas mágicas. O importante é que sejas sincero, que trates de escutar a vida até ao mais fundo e busques a Deus com confiança. Isso sim, tens que te empenhar seriamente e dedicar algum tempo.


Mas…então a fé não é uma questão de temperamento? Sim, sem dúvida que há pessoas mais sensíveis ao mistério de Deus e outras menos dispostas, mas a fé não é um assunto de pessoas “crédulas” ou “sensíveis”. Não tens que violentar a tua maneira de ser. Tu podes e deves buscar a Deus a partir do teu próprio temperamento. Deus quer encontrar-se contigo tal como tu és.

Pode-se ter fé tendo dúvidas? Claro que sim. Para seres crente não é imprescindível que saibas responder a todas as interrogações e a todas as dúvidas que te vêem à cabeça. O decisivo é que te relaciones com Deus honestamente. Não é mais crente aquele que aborda os “dogmas” ou a doutrina cristã com mais segurança, senão aquele que se esforça com sinceridade por viver em verdade diante de Deus. O que importa é que te não te enganes a ti próprio nem trates de enganar a Deus.

Será preciso sentir alguma coisa para voltar a crer? Não, necessariamente. Alguns costumam sentir paz e alegria interior; têm a sensação de estarem a descobrir o caminho certo. Mas o importante não é procurar “experiências especiais”, senão dar passos concretos de modo que se veja o teu desejo sincero de descobrir o sentido último da tua existência (...)


Será simples ou complicado crer? Olha, crer é tão simples e tão complicado como o viver e o amar. Umas vezes, poderá parecer-te o único meio de viver de uma maneira digna e feliz. Outras vezes, poderá parecer-te difícil e duro. Mas, se te encontrares verdadeiramente com Deus nunca mais o esquecerás; se te encontrares com Jesus de Nazaré no mais íntimo do teu ser, a tua vida mudará e serás outro»


CONTINUA


Creer, para quê? - Preguntas
José Antonio Pagola