segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DOS NAZARENOS AOS CRISTÃOS[6]

- Novo Mundo -



Eram cada vez mais numerosas as comunidades suscitadas pelo kerygma da ressurreição de Jesus. E não parando de surgir um pouco por aqui e por acolá, já chegavam a regiões e culturas além daquelas adjacentes à Palestina…


Fundadas pelos judeus da diáspora, muitas delas gozavam de total liberdade frente aos costumes tradicionais da Lei e o Culto. Estes irmãos, também conhecidos como helenistas, possuíam uma mentalidade mais aberta que os seus homónimos palestinenses, os quais ainda não tinham abandonado certos costumes judaicos apesar de acolherem a Boa Nova. Na verdade, alguns destes nazarenos continuavam a frequentar o Templo, e permaneciam fortemente enraizados aos ritos antigos.


Como já vimos, a maioria das novas comunidades foram fundadas pelos fugitivos de Jerusalém, pela altura da grande perseguição iniciada com a morte de Estevão. Se Filipe escolheu a Samaria como território do seu anúncio, não faltaram também helenistas que levaram o Euangelion a outros destinos como missionários itinerantes.
Entre os anos 37 e 42 já se contavam comunidades fundadas em Cesareia, Lida, Fenícia, Chipre e Antioquia.


A comunidade de Jerusalém, atenta a esta vaga de expansão, decide enviar Barnabé à longínqua cidade de Antioquia para lá prestar assistência à comunidade nascente. Barnabé, “homem bom, cheio de Fé e do Espírito Santo” (Act 11,24), era já reconhecido na cidade santa pela dedicação à comunidade. Proveniente da linhagem dos levitas do Templo e helenista descendente do Chipre, participava assiduamente na comunhão de bens e na vida fraterna com os nazarenos.


Antioquia da Síria destacava-se como uma metrópole célebre no mundo antigo. Estrategicamente situada entre o Mediterrâneo, Arménia e a Pérsia, servia de ponto de passagem das mais variadas rotas mercantis. Conta-se que nessa altura a cidade já rondava cerca de quinhentos mil habitantes, formando um “caldo” cultural e étnico como muito poucos naquela época. Situada na fronteira entre os mundos ocidental e oriental, Antioquia acolhia numerosos estrangeiros como os persas, cipriotas e outras minorias, dentre as quais se destacavam também os judeus. Foi precisamente no seio dessa colónia judaica que o Euangelion se propagou na cidade.


Quando Barnabé chega a Antioquia rapidamente assume uma diaconia (serviço) exemplar e aceite por todos. O seu pensamento estava próximo dos helenistas, e por isso, é acolhido por estes sem reservas; e simultaneamente, a sua ex-condição de levita de Jerusalém conferia-lhe também a autoridade necessária para lidar com os judeus mais conservadores das antigas tradições.


Porém, Com o crescimento da comunidade, Barnabé estava necessitado de novos colaboradores. Tendo ouvido falar de Saulo, já famoso em Jerusalém, dirige-se ao seu encontro em Tarso. A partir de então, Saulo é conduzido por Barnabé a Antioquia. Lá permanecem por um ano, amadurecendo e aprofundando as suas experiências de discípulos. Da proximidade entre eles nascia uma forte amizade, fruto da identidade que partilhavam nas atitudes e opções pelo anúncio do Reino. Saulo admirava o exemplo de Barnabé: um homem de mentalidade conciliadora e também apaixonado pela Boa Notícia.


Ambos continuam “instruindo uma comunidade numerosa” (Act 11,26) num ambiente onde a língua predominante era o grego. É então neste meio helenizado de Antioquia que muitos cidadãos começam a ouvir falar de um nome inédito: os judeus piedosos que rejeitavam o Euangelion dirigiam-se com desdém aos membros da nova comunidade, apelidando-os de Christianoi (CRISTÃOS). Estes irmãos, segundo eles, tornaram-se infiéis à antiga Aliança e à Lei de Moisés por causa do “falso” e “escandaloso” Messias que proclamavam; o seu “Cristo”.


A seita judaica dos nazarenos ganhava progressivamente um rosto distinto e com um novo alcance. A Boa Notícia de Jesus já não era somente proclamada nas pequenas aldeias e vilas do meio campesino. A grande cidade de Antioquia converter-se-ia no novo pólo de irradiação de um movimento que Saulo e Barnabé eram pioneiros. Ambos decidem partir de Antioquia, decididos a fundar novas comunidades, convictos que agora pisavam um novo mundo, dando os primeiros passos para o advento do CRISTIANISMO

4 comentários:

Sol da manhã disse...

Olá Gustavo!

Estou a adorar este percurso, mas fiquei com uma dúvida. Onde é que ficava Lida? É que eu não encontro aqui nos mapas (da altura, é claro!)... Para que região devo olhar?

Obrigada.

Um abraço,
Maria

Anónimo disse...

Para variar isto tinha de dar em relação=) Saulo e Barnabé...
Estava a ler o texto e acho que tive a mesma dificuldade que a Maria... Situar-me geograficamente nas coordenadas da altura não é lá muito fácil pra mim... Vem uma ajudinha Gustavo? =D

Um beijinho grande e muito obrigada por ti

Gustavo Sousa disse...

Maria e Andreia

Obrigado pela chamada de atenção. É assim, Cesareia e Lida são cidades costeiras da província da Galileia! Ehehe,na verdade ainda pertenciam ao território palestinense.

Lida encontrava-se próxima de Jope, e estão ambas situadas no território da Judeia. Cesareia do mar, é uma cidade já situada na Galileia e anexa ao território da Samaria.

As cidades que mencionei indicam um claro movimento de expansão que parte primeiro da Judeia (Jerusalém,Lida e Jope), propaga-se à Galileia dos gentios (Cesareia e Samaria) e chega à Síria(Damasco, e depois Antioquia), passando também pela ilha de Chipre. É um percurso claramente indicado no livro dos Actos. Dêem uma vista de olhos nos capítulo 9,12-43 e 10,1-8 de Actos. Em Actos 11 o Evangelho chega a Antioquia.

Sol da manhã disse...

AHHHHHHHH
Onde é que eu já ia com os olhos... Nunca mais ía lá chegar!!! Ainda por cima no meu mapa está com uma letras quase invisíveis :)!

Dei logo com elas depois da tua explicação.

Obrigada, Gustavo! :D