terça-feira, 17 de setembro de 2013

Memória do Profeta Martin Luther King [2] - O Evangelho Social de Martin





Em 1944, Mike ingressa na Faculdade de Morehouse com 15 anos. No princípio não se distinguia nos estudos. Preferia as festas e as farras com os amigos. Vaidoso, gostava de exibir bons fatos, e até lhe chamavam “Tweed” por causa disso. Contudo, mais tarde, após terminar um ciclo de estudos com média fraca, o jovem Mike ingressa num curso de Teologia sob a tutela de um professor que defendia o compromisso social. Aquilo fascinara-o, e acabou por obter a nota máxima.




Apesar de tudo, e irritando o conservadorismo do pai, Mike não abdicava das suas festas universitárias, dançarino nato de jitterbug, galã, fumador e jogador de cartas. Queria libertar-se do autoritarismo do pai King, e criticava a sua conceção rígida do lar e da religião. Por um lado admirava a sua frontalidade nas questões raciais, mas por outro lado, como adolescente repudiava cada vez mais a autocracia paterna.



A pouco e pouco, e à medida que ia aprofundando os estudos, Mike apercebe-se que a fé era muito mais do que “emotividade” e “gritos de “Aleluia” que ouvira na comunidade negra de Ebenezer. Encantava-se cada vez mais pelo professor Benjamim Mays que criticava abertamente as leis injustas do sistema Jim Crow (leis raciais) e pregava o advento do Evangelho social – um movimento que surgira no séc. XIX e defendia uma ética prática do evangelho na luta contra a desigualdade, a pobreza, o crime, o trabalho infantil, e na formação de associações sindicais.


Entretanto prossegue os estudos em Direito com especial interesse por Sociologia. Nessa altura, e em confronto com a fé batista e rigorosa do pai, chocou a todos na aula de catecismo negando a ressurreição física de Jesus. Lamentava “ir à Igreja”, pois irritava-lhe que as pessoas não pensassem e seguissem os seus pastores cegamente sem espírito crítico. Pior ainda, e para desepero do pai King, fizera troça da doutrina do pecado original e afirmava que a virgindade de Maria era apenas metafórica.



Por outro lado, os seus estudos de teologia, direito e sociologia suscitavam-lhe um interesse e sensibilidade cada vez maiores pelas questões sociais. Vai ainda mais longe e frequenta pequenos cursos de Filosofia em Harvard e fascina-se pelo personalismo.



Entretanto, a partir dos 18 anos decidira seguir as pisadas do pai e do avô, mas com uma diferença fundamental. Não seria um pastor “milagreiro” ou “sobrenatural”. Aspirava a tornar-se num ministro “racional” com – dizia ele – “o impulso interior para servir a humanidade”. Não desejava uma Igreja que fugisse da realidade, mas que a fé fosse a força para enfrentar os seus reais problemas. Por isso dedicava imensas horas ao estudo bíblico dos profetas, eram os seus autores favoritos. O Cristianismo tinha de dar mais prioridade a erradicar os bairros degradados do que a “salvar almas”.



King absorveu o melhor da teoria social marxista e do pensamento do economista Keynes – que resolvera o dilema da terrível Depressão económica dos anos 30. Finalmente julgou ter encontrado uma terceira via entre o comunismo e o capitalismo: era o “seu” Evangelho Social. E pretendia dar-lhe vida através das suas capacidades oratórias oriundas dos sermões de tradição negra que tocavam até ao mais íntimo do coração e da imaginação.



Queria tornar-se no catalisador dos anseios mais profundos do povo negro da América, rumo a um novo horizonte de sociedade.


Mais tarde, conclui o doutoramento em Filosofia, e contra a vontade do pai, Michael King rejeita ser ministro da Igreja de Ebenezer de Atlanta, aceitando antes o convite da comunidade da avenida Dexter em Montgomery. Recém-casado com uma cantora estudante Coretta, o Doutor Michael é investido como o mais jovem pastor do estado do Alabama: o reverendo Martin Luther King, que cedo iria dar que falar…

Sem comentários: