sábado, 20 de agosto de 2011

A PARÁBOLA DO SEMEADOR - I



«Escutai: o semeador saiu a semear. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho e vieram as aves e comeram-na. Outra caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra e logo brotou, por não ter profundidade de terra; mas quando o sol se ergueu, foi queimada e, por não ter raíz, secou. Outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, sufocaram-na, e não deu fruto. Outra, caiu em terra boa e, crescendo e vicejando,deu fruto e produziu a trinta, a sessenta, e a cem por um» E dizia: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça»

Marcos, 4, 1-9.



É curioso como actualmente tantos cristãos dão uma carga moralista a esta parábola. Fartam-se de nos encher os ouvidos que devemos ser a “terra boa”, que devemos limpar espinhos, e afastar as pedras do caminho, que devemos preparar a terra para que a semente germine…este tanto “deve-haver” não muda nada, e nada tem a ver com lógica do Deus de Jesus.


Como em tudo, há sempre uma razão de fundo por detrás das interpretações mais “tradicionais”. Ora isso deve-se ao facto do próprio evangelista pôr Jesus a explicar esta parábola uns versículos mais à frente – coisa que ele nunca fazia. Porém, Marcos opta por acrescentá-la não porque fosse ipsis verbis um ensinamento de Jesus, mas porque era uma necessidade da sua comunidade.


Possivelmente o fez para que todos abrissem o coração à Palavra, associada alegoricamente à expressão “semente”, ou para dar ênfase à urgência de acolher a Boa Notícia do Evangelho perante as dificuldades de integração das primeiras comunidades. Ao seu jeito, Marcos produziu uma interpretação legítima da parábola, que é importante e tem o seu lugar no coração do Evangelho, mas que, a pouco e pouco, fomos descuidando o seu sentido, degenerando hoje num moralismo inconsequente…


Bom, mas mais importante, foi o facto de Marcos deixar-nos intacta a narração da própria parábola, o mais próximo possível da originária. E para quem estiver atento, convém recordar o título: "o semeador". Jesus ao contá-la não pretendia prender a atenção dos seus ouvintes na qualidade dos terrenos, mas num Semeador...


É neste Semeador que Jesus deseja revelar o rosto do Pai e a força do seu Reino. E conta-a a gente habituada às agruras da vida do campo, e sobretudo, “desesperançadas” por tempos tão difíceis que viviam…


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