quarta-feira, 24 de setembro de 2008

NO TEMPO DA SEITA DOS NAZARENOS [2]







Nas fileiras dos que se opunham a este Euangelion destacavam-se sobretudo os membros da elite judaica: os saduceus, doutores da Lei, fariseus, o Concelho dos Anciãos, sacerdotes e sumo-sacerdote do Templo. Estes guardiões da ortodoxia não aceitavam que o Messias de Deus padecesse daquela morte infame. Examinavam cuidadosamente as escrituras “ao pé da letra”, garantindo que o Messias viria em Glória e poder para restituir a independência a Israel. Ele aniquilaria os romanos, traria o juízo e o domínio perpétuo a todos os povos da terra, e faria de Jerusalém a capital do mundo para sempre. Era esta a visão messiânica aceite por eles e pela maioria da nação judaica.


Havia ainda outra razão para rejeitarem este Euangelion. Marcava-lhes em particular aquele eco profético dos discípulos: “Vós o matastes” (Act 2,23)! Para eles, proclamar a ressurreição de Jesus significava manifestar um Deus que tomava partido por este Nazareno do povo, condenado e assassinado pelos membros da sua casta! E isto não só ameaçava o seu status quo, mas sobretudo denunciava-os - a eles e aos romanos - como criminosos! Carrascos da morte de um homem justo, o próprio Ungido de Deus. Por isso temiam a proclamação desta Boa Notícia para a nação. Era necessário travar a Boa Novidade de um Messias totalmente inesperado, inaugurador de um Reino libertador que fazia frente a todas as lógicas de poder, domínio, e exclusividade que a maioria deles tanto estimava.


Porém, estes homens distintos e seus apoiantes viam-se agora em mãos com um problema sério: na intenção de silenciarem a voz incómoda deste Galileu de Nazaré, tinham aberto os precedentes para suscitar mais seguidores seus que “aumentavam de número de dia para dia” (Act 2,47). Em tom de desprezo, chamavam-nos “nazarenos”, considerando-os como uma seita perigosa e marginal ao judaísmo. Falava-se já de alguns judeus piedosos que se reuniam com os discípulos e discípulas deste Jesus. Falava-se até que esta proclamação começava a gerar mudanças visíveis no seio da sociedade…


Embora continuassem a frequentar o Templo e a sinagoga, os “nazarenos” já não seguiam os seus “pastores habituais”. Colocavam tudo em comum e reuniam-se em pequenas comunidades para mergulhar num Mistério de Fé encantador que celebrava a vida, morte e ressurreição deste Jesus Nazareno.
Este Jesus ressuscitado, levantado de pé pelo poder de Deus e glorificado à Sua direita, realizava em plenitude, e com o vigor da Ruah, a salvação e o Reino prometidos a Israel. Este Jesus, Irmão maior, - que jamais fizera fosse o que fosse sozinho! - continuava a suscitar discípulos e discípulas, a caminhar com eles, a confirmá-los na construção desse Reino…


A nova seita ia germinando apesar do descontentamento que surgia de muitas frentes. As consequências não tardariam a manifestar-se.
Os senhores do Templo e do Culto começavam a fechar um círculo letal, parecendo ameaçar de morte este novo movimento que surgia ainda tão minúsculo, e tão frágil como um “grão de mostarda”

7 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado por este post
Espero que ele inspire uma dinâmica nova de esperança e um jeito novo de moldar a Igreja de hoje!
Um abraço.

Unknown disse...

Bom dia,

Gustavo, um amigo comum comentava no teu 1º “Post” o seguinte:

“Só faltava dizerem que eram uma seita e isso”

E não dizem?... Ai não que não dizem e ainda bem, porque enquanto houverem muitas seitas mesmo que minúsculas como o “grão de mostarda”, vão entrando por as frinchas dos Templos para assim Evangelizarem com a verdadeira Espada deste Nazareno, ressuscitado e glorificado para que em todos os tempos, surjam mais discípulos como tu.
Gustavo, obrigado por a prova que dás... “de que vale a pena haver privilegiadas seitas”

Um abraço

Anónimo disse...

Os Senhores do templo...! Se um dia puderes, fala-nos também das Senhoras do templo... daria uma boa partilha...

Tanta traça ainda a precisar de naftalina aos montes pelos bancos, claustros e sacristias dos templos do hoje..!

Anónimo disse...

Grão de mostarda pequenino, frágil não!Tão forte, tão forte que dele, ainda hoje,rebentam viçosas comunidades que se deixam penetrar pelo encanto da vida desse Nazareno. Comunidades de gente com rosto e nome, capaz de partilhar dificuldades e suscitar respostas a essas dificuldades...gente que se ama à luz do Amor desse Nazareno...gente que "desce o monte" e também ela é "grão de mostarda" quando defende valores fora de moda...Gustavo, é muito bom voltarmos às raízes de vez em quando...Glória

Gustavo Sousa disse...

Oi Figlo

Tens toda a razão!Este grão de mostarda era tudo menos frágil, hehe! O que queria mesmo dizer é que mostrava-se aqui uma fragilidade aparente, especialmente à vista das autoridades judaicas.

Não percas os próximos posts e veremos, como bem dizes, que aqui não estamos perante nenhuma fragilidade!

Obrigado a todos pelos comentários. É um modo muito bonito de confirmar ou não se estou a anunciar uma Boa Notícia

SHALOM

silvino disse...

e ainda hoje continua a suscitar discipulos q teimam em ir contra a corrente de ortodoxias renovadas e disfarçadas! paz e bem :)

Gustavo Sousa disse...

Oh Grande Silvino! Que é feito de ti amigalhaço? Eh pá, podiamos combinar um jantar um dia destes...

Não esqueço o grupo de Taizé, e gostaria um dia de reencontrar toda a gente.

Um grande Abraço! Não deixes de aparecer por cá!

"Cantarei ao Senhor..."