Em 1944, Mike ingressa na Faculdade de
Morehouse com 15 anos. No princípio não se distinguia nos estudos. Preferia as
festas e as farras com os amigos. Vaidoso, gostava de exibir bons fatos, e até
lhe chamavam “Tweed” por causa disso. Contudo, mais tarde, após terminar um
ciclo de estudos com média fraca, o jovem Mike ingressa num curso de Teologia
sob a tutela de um professor que defendia o compromisso social. Aquilo
fascinara-o, e acabou por obter a nota máxima.
Apesar de tudo, e irritando o conservadorismo
do pai, Mike não abdicava das suas festas universitárias, dançarino nato de
jitterbug, galã, fumador e jogador de cartas. Queria libertar-se do autoritarismo
do pai King, e criticava a sua conceção rígida do lar e da religião. Por um
lado admirava a sua frontalidade nas questões raciais, mas por outro lado, como
adolescente repudiava cada vez mais a autocracia paterna.
A pouco e pouco, e à medida que ia
aprofundando os estudos, Mike apercebe-se que a fé era muito mais do que “emotividade”
e “gritos de “Aleluia” que ouvira na comunidade negra de Ebenezer. Encantava-se
cada vez mais pelo professor Benjamim Mays que criticava abertamente as leis
injustas do sistema Jim Crow (leis raciais) e pregava o advento do Evangelho
social – um movimento que surgira no séc. XIX e defendia uma ética prática do
evangelho na luta contra a desigualdade, a pobreza, o crime, o trabalho
infantil, e na formação de associações sindicais.
Entretanto prossegue os estudos em Direito com
especial interesse por Sociologia. Nessa altura, e em confronto com a fé
batista e rigorosa do pai, chocou a todos na aula de catecismo negando a
ressurreição física de Jesus. Lamentava “ir à Igreja”, pois irritava-lhe que as
pessoas não pensassem e seguissem os seus pastores cegamente sem espírito
crítico. Pior ainda, e para desepero do pai King, fizera troça da doutrina do
pecado original e afirmava que a virgindade de Maria era apenas metafórica.
Por outro lado, os seus estudos de teologia,
direito e sociologia suscitavam-lhe um interesse e sensibilidade cada vez maiores
pelas questões sociais. Vai ainda mais longe e frequenta pequenos cursos de
Filosofia em Harvard e fascina-se pelo personalismo.
Entretanto, a partir dos 18 anos decidira
seguir as pisadas do pai e do avô, mas com uma diferença fundamental. Não seria
um pastor “milagreiro” ou “sobrenatural”. Aspirava a tornar-se num ministro “racional”
com – dizia ele – “o impulso interior
para servir a humanidade”. Não desejava uma Igreja que fugisse da
realidade, mas que a fé fosse a força para enfrentar os seus reais problemas. Por
isso dedicava imensas horas ao estudo bíblico dos profetas, eram os seus
autores favoritos. O Cristianismo tinha de dar mais prioridade a erradicar os
bairros degradados do que a “salvar almas”.
King absorveu o melhor da teoria social
marxista e do pensamento do economista Keynes – que resolvera o dilema da
terrível Depressão económica dos anos 30. Finalmente julgou ter encontrado uma
terceira via entre o comunismo e o capitalismo: era o “seu” Evangelho Social. E
pretendia dar-lhe vida através das suas capacidades oratórias oriundas dos sermões
de tradição negra que tocavam até ao mais íntimo do coração e da imaginação.
Queria tornar-se no catalisador dos anseios
mais profundos do povo negro da América, rumo a um novo horizonte de sociedade.
Mais tarde, conclui o doutoramento em Filosofia,
e contra a vontade do pai, Michael King rejeita ser ministro da Igreja de
Ebenezer de Atlanta, aceitando antes o convite da comunidade da avenida Dexter
em Montgomery. Recém-casado com uma cantora estudante
Coretta, o Doutor Michael é investido como o mais jovem pastor do estado do
Alabama: o reverendo Martin Luther King, que cedo iria dar que falar…
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