segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Emanuel Cartoon regressa com novo visual

Ora aí está uma proposta interessante.

Para quem ainda não sabe, abriu o novo blog da minha lista de amigos, o Emanuel Cartoon:









quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A PARÁBOLA DO SEMEADOR - III


Este Semeador provoca-nos a esperar com a coragem para desperdiçar e apostar no que é estéril, e no que “está perdido”.


Também aqui está patente outra provocação: terminou o tempo das divisões, e julgamentos. Deus mesmo acabou com a lógica do calculismo humano de separar os bons dos maus, os “puros” dos “impuros”, os úteis dos inúteis. Esgotou-se a Paciência para suportar tais juízos. Nada é inútil! Ninguém é inútil!

Inaugurou-se uma Nova Paciência: a Paciência de Esperar «contra toda a esperança». E Semelhante Esperança só se concretiza quando é movida pelo puro dom.

Jesus ensina aos seus ouvintes que dar-se até ao desperdício e sem olhar a quem não é coisa de gente insensata, mas de gente que Ama. E o poder do Amor ao dar de caras com a rejeição e o fracasso, continua simplesmente a avançar em frente. Para Este Semeador a semente desperdiçada não é a devorada, a queimada, ou a sufocada, mas somente aquela que permanece numa mão fechada.

Deus não Reina apenas no melhor de nós mesmos. O seu Amor também pode florescer a partir dos nossos próprios fracassos, ambiguidades, e debilidades porque aprendeu a arte de Esperar. Por enquanto nada é inevitável, nada está perdido, nada é desperdiçado. O Amor é assim! Decide-se sempre no princípio, e provavelmente esse é o segredo para que por fim, triunfe…

Parece mesmo que existe boa terra em toda a parte! Pode ser que a semente a penetre…pode ser que não...mas a persistência amorosa denuncia que aí mesmo no meio dos espinhos, pedras, pássaros e sol ardente há sempre boa terra, onde ninguém a vê…há que esperar, e continuar a semear! E isso tem que bastar…ainda que não haja resultados…tem que bastar.

A vitória Pascal brota sempre do mesmo lugar: do fracasso onde permaneceram a esperança e o dom até ao absurdo. O resto, só Deus mesmo pode fazer. Ai, e Esse não falha…

E aquela gente começava a compreendê-lo no seu coração. Ao escutarem que «a semente caiu em terra boa e, crescendo e vicejando, deu fruto e produziu a trinta, a sessenta, e a cem por um», perceberam-no e recordavam um antigo Salmo que falava dos tempos da Salvação:

«Aqueles que semeiam com lágrimas vão recolher com alegria. À ida vão chorar, carregando e lançando sementes; no regresso cantam de alegria, transportando os feixes de espigas»

(Salmo 126,5-6).

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A PARÁBOLA DO SEMEADOR - II

Quão estranho e fascinante é este Semeador


Mas afinal não é preciso arar a terra? Revolvê-la? Há que prepará-la primeiro, arrancar as ervas daninhas, limpar os espinhos, remover as pedras, procurar a “boa terra” onde valha a pena semear. Afinal não se pode desperdiçar semente…ao menos que delimitasse o terreno onde iria começar a semeadura…


Mas não! Este Semeador faz tudo ao contrário: Começa precipitadamente a semear, sem arar, sem escolher, sem calcular, sem nenhuma preparação.


«Mas que raios é isto??», «Quem é este semeador insensato -

comentavam as gentes que escutavam o Nazareno. E lá está ele, “todo feliz da vida”, desperdiçando semente em toda a parte!! Não põe à prova os terrenos, não faz qualquer espécie de selecção. Antes e acima de tudo Já começou a semear…


E lá vão elas! Umas caiem à beira da estrada, outras por entre rochas, outras ainda entre espinhos. E o semeador continua alegremente, abrindo caminho debaixo de um sol escaldante, e sob a ameaça dos pássaros que vão debicando aqui e acolá as tão preciosas sementes.


Nos dias seguintes vê-se o resultado de tanto “desleixo”. Era de esperar! «Pois claro está, já se estava a ver» - comentavam. «Umas comidas, outras queimadas, outras completamente secas. Que desgraça!». Do ponto de vista das evidências isto era tudo o que se podia esperar. É impressionante como Jesus dá de caras com o realismo! Não esconde nada, põe tudo às claras. Ele não está a revelar nenhuma utopia, diz simplesmente as coisas como são.


Mas precisamente por causa disso, Jesus contrapõe a essa realidade “evidente”, a realidade emergente do Reino: é que este Semeador permanece teimoso e obstinado, a não querer dar ouvidos à nossa sensatez. Continua a semear, e a semear ainda mais, pedras e espinhos adentro, parece que nada o detém. Nada o desanima… não tem medo de aleijar os pés e palmilhar os terrenos difíceis. Parece mesmo que só vai parar quando ficar de mãos vazias


Ora isto não é um optimismo, nem ingenuidade, é outra coisa bem diferente. E os camponeses começavam a entender…

Em primeiro lugar, este profeta de Nazaré tem uma linguagem diferente do Baptista. João falava sempre em Juízo. Vinha aí a Ira de Deus para ceifar e arrancar as ervas daninhas. Mas Jesus fala na HORA da primavera do Reino que desponta. Vem aí uma nova vitalidade, fertilidade, brilho, encanto, e frescura. Precisamente quando a história estava menos preparada, Deus irrompeu no meio dela como um “mãos largas”, um “esbanjador” de dons e bençãos, que até “desperdiça” mimos, graças e do melhor que tem sobre os imerecidos! «Sim! Ele vem para semear e não para ceifar!», Vem inaugurar o tempo duma Alegria que resvala a teimosia atrevida…


Por isso, este Nazareno está-nos a falar de Esperança. Não é o tempo do Juízo que vem aí, mas o tempo da Paciência e da Espera! Mas apercebem-se também que a Esperança trabalha-se, sempre, sem cessarnão se compadece de cálculos, nem resultados, porque é fiel ao que começou…


Como sempre, fazemos tudo ao contrário: esperamos para agir, mas Deus actua para Esperar! Quando esperamos por “condições” para agir, não temos alternativa senão re-agir “ao que acontece”. Mas Deus é verdadeiramente Criador: age primeiro, criando assim as condições por aquilo que vale a pena Esperar…



CONTINUA

sábado, 20 de agosto de 2011

A PARÁBOLA DO SEMEADOR - I



«Escutai: o semeador saiu a semear. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho e vieram as aves e comeram-na. Outra caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra e logo brotou, por não ter profundidade de terra; mas quando o sol se ergueu, foi queimada e, por não ter raíz, secou. Outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, sufocaram-na, e não deu fruto. Outra, caiu em terra boa e, crescendo e vicejando,deu fruto e produziu a trinta, a sessenta, e a cem por um» E dizia: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça»

Marcos, 4, 1-9.



É curioso como actualmente tantos cristãos dão uma carga moralista a esta parábola. Fartam-se de nos encher os ouvidos que devemos ser a “terra boa”, que devemos limpar espinhos, e afastar as pedras do caminho, que devemos preparar a terra para que a semente germine…este tanto “deve-haver” não muda nada, e nada tem a ver com lógica do Deus de Jesus.


Como em tudo, há sempre uma razão de fundo por detrás das interpretações mais “tradicionais”. Ora isso deve-se ao facto do próprio evangelista pôr Jesus a explicar esta parábola uns versículos mais à frente – coisa que ele nunca fazia. Porém, Marcos opta por acrescentá-la não porque fosse ipsis verbis um ensinamento de Jesus, mas porque era uma necessidade da sua comunidade.


Possivelmente o fez para que todos abrissem o coração à Palavra, associada alegoricamente à expressão “semente”, ou para dar ênfase à urgência de acolher a Boa Notícia do Evangelho perante as dificuldades de integração das primeiras comunidades. Ao seu jeito, Marcos produziu uma interpretação legítima da parábola, que é importante e tem o seu lugar no coração do Evangelho, mas que, a pouco e pouco, fomos descuidando o seu sentido, degenerando hoje num moralismo inconsequente…


Bom, mas mais importante, foi o facto de Marcos deixar-nos intacta a narração da própria parábola, o mais próximo possível da originária. E para quem estiver atento, convém recordar o título: "o semeador". Jesus ao contá-la não pretendia prender a atenção dos seus ouvintes na qualidade dos terrenos, mas num Semeador...


É neste Semeador que Jesus deseja revelar o rosto do Pai e a força do seu Reino. E conta-a a gente habituada às agruras da vida do campo, e sobretudo, “desesperançadas” por tempos tão difíceis que viviam…