domingo, 28 de setembro de 2008

NO TEMPO DA SEITA DOS NAZARENOS [3]



- O Confronto -


A primeira acção repressiva das autoridades judaicas contra os “nazarenos” fez-se sentir quando os apóstolos Pedro e João anunciavam a ressurreição de Jesus às portas do Templo de Jerusalém.

“Enquanto falavam ao povo, apresentaram-se os sacerdotes, o comissário do templo e os saduceus, irritados porque instruíam o povo, anunciando a ressurreição dos mortos na pessoa de Jesus” (Act 4,1-2)

Homens de poder e influência política, os saduceus beneficiavam de boas relações com o Império. Apesar de abominarem o domínio romano procuravam contudo tirar o máximo partido disso, acumulando favores e posses junto deles. Acreditavam num “deus-pagador” que recompensava os “bons”, multiplicando-lhes a descendência e os bens; e que amaldiçoava os “ímpios” com a doença, o abandono e a marginalidade. Por isso a riqueza material dos Saduceus era o seu estandarte, sinal da bênção divina e do favor de Yahvé.


Odiavam Jesus Nazareno que se revelara amigo de publicanos, prostitutas e abandonados de Israel; aqueles que, segundo eles, eram os “malditos” de Deus. Jesus tinha-lhes virado as regras do jogo quando afirmara que os últimos eram os primeiros, e os primeiros últimos.
Além disso, estes prósperos aristocratas tampouco acreditavam na ressurreição dos mortos; rejeitavam-na em absoluto como heresia proclamada por profetas e mísera justificação para os fracos da História. Afinal quem eram aqueles que se atreviam a proclamar ao povo a ressurreição de alguém? E, mais grave, de quem?? Daquele Nazareno, o “amigo de ímpios”??! “BLASFÉMIA! BLASFÉMIA!”- protestavam encolerizados…


Do mesmo modo, os sacerdotes encontravam-se também enfurecidos, “possessos” com a atitude de Pedro e João. Anunciar aquele Nazareno às portas do Templo - aquele mesmo que ainda há pouco tempo tinha lá “armado barraca” - era abuso! Uma provocação directa ao seu “dever e autoridade sagradas”! Além disso, por detrás dessa cólera movia-se a pressão de Anás e Caifás; os mesmos que tinham condenado o seu Mestre.

Sem demora, aqueles grupos dirigem-se aos dois apóstolos e mandam-nos prender à vista de toda a gente (Act 4,3). Aqui exibiam a sua superioridade, prontos a demonstrarem quem eram os vitoriosos: eles ou o Nazareno anunciado.

No dia seguinte segue-se o segundo acto. Desta vez reunia-se o Grande Concelho dos maiores em Jerusalém, formado pelos que detinham o poder executivo de reduzir a pó a seita emergente. Entre os participantes contavam-se “os chefes dos judeus, os anciãos, e os escribas, também Anás, o sumo-sacerdote, e Caifás, João e Alexandre e todos os familiares do sumo sacerdote.” (Act 4, 5-6). Mandam chamar os prisioneiros e interrogam-lhes:


“Com que poder ou em nome de quem fizestes isso?”


Curiosamente, estes chefes não lhes perguntaram porque “diziam isso”, ou porque “falavam daquilo”! Não. No anúncio da ressurreição deste Nazareno estavam implicadas acções concretas, com consequências palpáveis! O Concelho estava alarmado com os Actos dos apóstolos e discípulos de um ressuscitado…


quarta-feira, 24 de setembro de 2008

NO TEMPO DA SEITA DOS NAZARENOS [2]







Nas fileiras dos que se opunham a este Euangelion destacavam-se sobretudo os membros da elite judaica: os saduceus, doutores da Lei, fariseus, o Concelho dos Anciãos, sacerdotes e sumo-sacerdote do Templo. Estes guardiões da ortodoxia não aceitavam que o Messias de Deus padecesse daquela morte infame. Examinavam cuidadosamente as escrituras “ao pé da letra”, garantindo que o Messias viria em Glória e poder para restituir a independência a Israel. Ele aniquilaria os romanos, traria o juízo e o domínio perpétuo a todos os povos da terra, e faria de Jerusalém a capital do mundo para sempre. Era esta a visão messiânica aceite por eles e pela maioria da nação judaica.


Havia ainda outra razão para rejeitarem este Euangelion. Marcava-lhes em particular aquele eco profético dos discípulos: “Vós o matastes” (Act 2,23)! Para eles, proclamar a ressurreição de Jesus significava manifestar um Deus que tomava partido por este Nazareno do povo, condenado e assassinado pelos membros da sua casta! E isto não só ameaçava o seu status quo, mas sobretudo denunciava-os - a eles e aos romanos - como criminosos! Carrascos da morte de um homem justo, o próprio Ungido de Deus. Por isso temiam a proclamação desta Boa Notícia para a nação. Era necessário travar a Boa Novidade de um Messias totalmente inesperado, inaugurador de um Reino libertador que fazia frente a todas as lógicas de poder, domínio, e exclusividade que a maioria deles tanto estimava.


Porém, estes homens distintos e seus apoiantes viam-se agora em mãos com um problema sério: na intenção de silenciarem a voz incómoda deste Galileu de Nazaré, tinham aberto os precedentes para suscitar mais seguidores seus que “aumentavam de número de dia para dia” (Act 2,47). Em tom de desprezo, chamavam-nos “nazarenos”, considerando-os como uma seita perigosa e marginal ao judaísmo. Falava-se já de alguns judeus piedosos que se reuniam com os discípulos e discípulas deste Jesus. Falava-se até que esta proclamação começava a gerar mudanças visíveis no seio da sociedade…


Embora continuassem a frequentar o Templo e a sinagoga, os “nazarenos” já não seguiam os seus “pastores habituais”. Colocavam tudo em comum e reuniam-se em pequenas comunidades para mergulhar num Mistério de Fé encantador que celebrava a vida, morte e ressurreição deste Jesus Nazareno.
Este Jesus ressuscitado, levantado de pé pelo poder de Deus e glorificado à Sua direita, realizava em plenitude, e com o vigor da Ruah, a salvação e o Reino prometidos a Israel. Este Jesus, Irmão maior, - que jamais fizera fosse o que fosse sozinho! - continuava a suscitar discípulos e discípulas, a caminhar com eles, a confirmá-los na construção desse Reino…


A nova seita ia germinando apesar do descontentamento que surgia de muitas frentes. As consequências não tardariam a manifestar-se.
Os senhores do Templo e do Culto começavam a fechar um círculo letal, parecendo ameaçar de morte este novo movimento que surgia ainda tão minúsculo, e tão frágil como um “grão de mostarda”

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

NO TEMPO DA SEITA DOS NAZARENOS [1]



Bem-vindos! Este será o primeiro post de muitos dedicados ao Cristianismo Primitivo. Um assunto que me vai ocupando o coração desde há muito, e hoje pela primeira vez vê a luz do dia. Aqui vai...


- O Escândalo -



À volta do ano 33 da nossa era, durante o reinado de Tibério, e pouco depois da festa da Páscoa, começou a circular uma Notícia extraordinária pelas ruas e praças de Jerusalém que depressa se alastraria por toda a Palestina e para além das suas fronteiras. Havia um burburinho inquieto entre as gentes e parece que não se falava noutra coisa:


“O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, o Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, o Nazareno, e glorificou-o como Messias! O mesmo Jesus que foi preso, julgado como malfeitor, crucificado como maldito, e morto fora dos muros da nossa Cidade Santa!”


Esta mensagem subversiva foi anunciada pela primeira vez na capital judaica pelos discípulos e discípulas deste Jesus. Entre eles destacavam-se os doze enviados (apóstolos). Por toda a parte aclamavam: “Ele está vivo!” e afirmando-se como testemunhas deste acontecimento, proclamavam-no como único em toda a história de Israel! Para espanto de todos não pareciam minimamente assustados com a reacção das autoridades, falavam abertamente em público tal e qual o seu Mestre…


Tal era a emoção, o entusiasmo e ousadia deste anúncio que muitos julgavam-nos embriagados. Sim, embriagados, não de “vinho doce” mas simplesmente por terem nas mãos uma Boa Notícia: um Eu – Angelion [palavra grega que significa Boa Nova]. Notícia que era Boa o suficiente para não ser dominada pelo medo, tolhida por qualquer timidez, ou conservada como doutrina ou esquema mental! Sim, aqui estava-se diante de uma Novidade “demasiado Boa”, a ponto de se converter em mandato e razão de viver!


Esta proclamação propagava-se por toda a Jerusalém como um fogo devorador: a uns fazia-lhes “arder o coração”, encantados com a Boa novidade de um Deus que confirmara a vida deste Jesus, irmão de pobres, e marginalizados; a outros “consumia-lhes” as mentalidades rigoristas e fechadas, para quem tal acontecimento constituía um autêntico escândalo! Perante o impacto desta Noticia era impossível permanecer neutro ou indiferente. Do seu âmago brotava um “sinal de contradição” (Lc 2,34) de tal ordem que só podia gerar discípulos, ou inimigos! Ou aderiam, ou lutavam contra ela…


CONTINUA...


P.S. - Afinal não vos quero maçar para já com posts demasiado longos, como aqui um dos meus vizinhos do lado heheh)


quinta-feira, 18 de setembro de 2008

ASSIM ME APRESENTO...



Vida…palavra que encerra toda a origem, sentido e meta da nossa existência. E sei lá mais…

Para mim ela adquire um sabor especial, sobretudo agora que me comprometo a assumi-la com novos horizontes e desafios. Aonde ela me leva? Não sei, e muito sinceramente não pretendo sabê-lo de uma vez só. Asseguro-te que prefiro saboreá-la á medida que a vou construindo…

Contudo, tenho a certeza que será surpreendentemente mais bela, muito maior, e muito mais abundante do que a sonho e anseio neste momento! Sei disso simplesmente porque, para mim, ela é Teologal. Isto é, ela acontece segundo a inciativa amorosa de Deus. E isso não é simplesmente uma afirmação, mas o testemunho de um facto, um acontecimento…na minha vida, repito, na minha vida!

Olhando para a minha história constato que não sou somente o seu único autor. Constato que vivo uma vida solidária com uma vontade que ultrapassa de longe os meus próprios projectos e expectativas. Constato que isso acontece em mim, não fora da minha liberdade, mas sobretudo no núcleo dela! Constato que isso em mim é fonte de felicidade; é verdadeiro e absolutamente real…

Por isso testemunho que vivo uma história marcada pela Graça. A Graça de um Deus Fiel, sempre Novo, e muito Forte! E pela experiência dessa vida agraciada, pretendo agora vivê-la cada vez mais mergulhado nessa lógica. Na lógica desse Deus que fui descobrindo por Graça! A verdade é que não consigo mais viver sem a Fé, a Esperança e o Amor.

Quero viver na Fé de um Deus que acredita em mim, e que é absolutamente digno de crédito. De um Deus a quem me quero confiar cada vez mais para um projecto de salvação. Um projecto que não me tem a mim como fim, mas como começo para um sem número de gente que Ele ama e sonha abraçar…

Quero viver a Esperança num amanhã desejado e sonhado pelo Deus de Jesus. Um amanhã que não termina num ocaso, que não acontece por acaso; num amanhã que é sempre maior e melhor que “ontem”. Um amanhã que não terá fim…

Quero viver o Amor de Jesus de Nazaré, Amor que brota de um ressuscitado, um Vivente que me acompanha e não pára de me encantar, de me atrair, me seduzir. Um Amor que me atira para fora de mim, na direcção de uma Vida em abundância, de comunhão, partilha e fraternidade…


Esta é a vida que quero partilhar contigo, e com todos os que visitarem este blog



Por enquanto vivam Bem! Volto em breve


SHALOM