sábado, 5 de outubro de 2013

Memória do Profeta Martin Luther King [5] - A PROVAÇÃO DE BIRMINGHAM






 “Entendo que uma pessoa que viola uma lei que em consciência considera injusta, e está pronta a aceitar a pena de prisão para assim alertar a consciência da comunidade para essa injustiça, está na realidade a dar provas do maior respeito pela lei”
Martin Luther King, Birmingham, 1963.


À medida que os anos de luta não-violenta iam passando, King e a sua associação (o SCLC) iam adquirindo algumas vitórias, mas também amargas derrotas. Por exemplo, em Albany o movimento dos Direitos Cívicos não vingou, pois outras associações não concordavam com o método não-violento de King. Uma delas, o SNCC, era liderada por estudantes universitários negros e uma dissidente do SCLC, que guardava algum ressentimento a King. Achavam-no um idealista, movido mais por convicções religiosas pseudo-messiânicas do que por estratégias realistas.

Quando ele falava, no gozo chamavam-no “o Senhor”, troçando dos seus discursos geralmente inflamados e arrebatadores. Em consequência disso, os protestos e marchas dividiam-se e não havia organização. Na falta de coesão, depressa a maioria da comunidade negra cedeu ao desânimo, e a luta pela liberdade em Albany sofreu um revés.

Em 1961, tinham-se iniciado as “Viagens da Liberdade” (Freedom Riders). Constituídas por grupos de jovens brancos e negros que viajavam em autocarros, tinham por objetivo percorrer toda a América, sensibilizando as populações para a realidade duma convivência social e inter-racial sem segregação. Contudo, a violência de grupos fanáticos racistas conduziu à matança e linchamento de alguns grupos de ocupantes, resultando até em autocarros incendiados. Martin, irritado, pedia ao recém-eleito presidente John F. Kennedy escoltas de soldados federais que garantissem a proteção dos viajantes, mas tal não aconteceu.

Apesar de todas as contrariedades – que não foram poucas, nem menores -,com uma determinação invencível, Martin mantinha acesa a chama da esperança…

Em 1963, King e os seus companheiros do SCLC decidiram avançar “de cabeça” para uma das ações mais ousadas de sempre. Iriam promover a luta pelos Direitos Cívicos na cidade sulista mais segregada da América: Birmingham. Lá, não só se fazia sentir na máxima intensidade a injustiça do racismo, como também era a cidade com a maior desigualdade económica da nação. Desde os anos 30, Birmingham foi marcada por uma onda de violência contra os operários afro-americanos, promovida pelos donos da Indústria local e pelos seus poderosos interesses financeiros, que estendiam os seus tentáculos até ao Norte.


Martin Luther King estava disposto a “cavar um túnel de esperança na enorme montanha do desespero” de Birmingham. Se lá conseguisse chamar a atenção do país e do Supremo Tribunal de Justiça, então, esse exemplo iria alastrar-se por contágio em todos os estados americanos.

Em Birmingham, King contou com a colaboração de James Bevel, um ativista da luta não-violenta gandhiana, e também do reverendo Fred Shuttlesworth, que já tinha sofrido atentados, esfaqueado, preso e espancado por defender os direitos da comunidade negra. A população enfrentava a mão de ferro da polícia municipal, comandada pelo cruel comandante Connor, na altura conhecido e temido pela comunidade negra como “Bull Connor” (o “Touro Connor”.


Após as eleições autárquicas do município, Martin deu início à operação “projeto C”“C” de Confrontação –, que consistia em “sit-ins”, isto é, ocupações em massa de cidadãos de côr em lugares públicos em toda a cidade reservados apenas a brancos. Com isso, esperava uma reação de “Bull Connor”, com intuito de mostrar à América e ao mundo a violência e o tratamento desumano da sua polícia de choque, mandatada para usar todos os meios necessários de modo a manter os obscuros interesses segregacionistas.

E assim foi. Na sequência das ações diretas de protesto não violento da comunidade negra, seguiram-se bastonadas, pontapés, cães-polícia lançavam-se violentamente sobre pessoas indefesas (também mulheres e crianças) mordendo-as como se representassem uma ameaça iminente à “paz” e “ordem”, mangueiras de água sob pressão descarregavam sobre os manifestantes projetando-os por vezes a vários metros, arrastados pelo chão; inúmeras detenções seguiam-se ao comando de Connor. Contudo, muitos, durante a detenção gritavam: Não tenho medo dos vossos cães…”; “Não tenho medo das vossas mangueiras”; “Não tenho medo de nenhum Bull porque quero a minha liberdade! Quero a minha liberdade! Quero a minha liberdade AGORA!”.

 

Preocupados com a imagem que estava a ser passada, as autoridades de Birmingham conseguiram que o Tribunal estadual estabelecesse um embargo a todo o tipo de manifestações.


Entretanto King queria participar numa próxima manifestação, convidado pela comunidade local. Mas isso representava um dilema terrível: por um lado, o SCLC necessitava do seu líder para sair da cidade e fazer conferências em todo o país, apelando à consciência da nação, sobretudo angariar fundos para pagarem a fiança de muitas famílias que enchiam as prisões municipais de Birmingham. Mas, se Martin saísse da cidade, arriscava-se a perder a solidariedade com os manifestantes e não dar a cara pelo “projeto C”. Por outro lado, se Martin fosse à manifestação, desobedecia ao Tribunal estadual, e podia pôr em risco a legalidade das suas ações, a sua liderança, e arriscar perder para sempre qualquer ação legal a favor dos Direitos Cívicos.

Atormentado por este dilema, Martin fechou-se isolado numa sala ao lado da reunião com os seus companheiros, e orou. Diria mais tarde: “sentei-me no meio do mais profundo silêncio que alguma vez senti”. Meia hora depois, sai da sala com um ar determinado e vestido com uma camisa e calças de ganga dizendo: “Não sei o que irá acontecer! Não faço ideia donde virá o dinheiro, mas tenho de fazer um ato de fé”. Decidira ir à marcha e desobedecer ao “embargo imoral” do Tribunal.



A 12 de Abril, acompanhado do seu fiel amigo Abernathy, juntou-se à manifestação e em coro com os manifestantes gritava: “A liberdade chegou a Birmingham!”. Os homens de Connor estavam a postos, e mal viram King aproveitaram imediatamente a oportunidade: agarraram-no violentamente pelo cinto e levaram-no para um carro-prisão.




Nessa mesma noite, Martin Luther King foi atirado para uma cela escura e isolada. Julgava que desta vez o iriam matar…

1 comentário:

jabarsabat disse...

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