- O Confronto -

“Enquanto falavam ao povo, apresentaram-se os sacerdotes, o comissário do templo e os saduceus, irritados porque instruíam o povo, anunciando a ressurreição dos mortos na pessoa de Jesus” (Act 4,1-2)
Homens de poder e influência política, os saduceus beneficiavam de boas relações com o Império. Apesar de abominarem o domínio romano procuravam contudo tirar o máximo partido disso, acumulando favores e posses junto deles. Acreditavam num “deus-pagador” que recompensava os “bons”, multiplicando-lhes a descendência e os bens; e que amaldiçoava os “ímpios” com a doença, o abandono e a marginalidade. Por isso a riqueza material dos Saduceus era o seu estandarte, sinal da bênção divina e do favor de Yahvé.
Odiavam Jesus Nazareno que se revelara amigo de publicanos, prostitutas e abandonados de Israel; aqueles que, segundo eles, eram os “malditos” de Deus. Jesus tinha-lhes virado as regras do jogo quando afirmara que os últimos eram os primeiros, e os primeiros últimos. Além disso, estes prósperos aristocratas tampouco acreditavam na ressurreição dos mortos; rejeitavam-na em absoluto como heresia proclamada por profetas e mísera justificação para os fracos da História. Afinal quem eram aqueles que se atreviam a proclamar ao povo a ressurreição de alguém? E, mais grave, de quem?? Daquele Nazareno, o “amigo de ímpios”??! “BLASFÉMIA! BLASFÉMIA!”- protestavam encolerizados…
Do mesmo modo, os sacerdotes encontravam-se também enfurecidos, “possessos” com a atitude de Pedro e João. Anunciar aquele Nazareno às portas do Templo - aquele mesmo que ainda há pouco tempo tinha lá “armado barraca” - era abuso! Uma provocação directa ao seu “dever e autoridade sagradas”! Além disso, por detrás dessa cólera movia-se a pressão de Anás e Caifás; os mesmos que tinham condenado o seu Mestre.
Sem demora, aqueles grupos dirigem-se aos dois apóstolos e mandam-nos prender à vista de toda a gente (Act 4,3). Aqui exibiam a sua superioridade, prontos a demonstrarem quem eram os vitoriosos: eles ou o Nazareno anunciado.
No dia seguinte segue-se o segundo acto. Desta vez reunia-se o Grande Concelho dos maiores em Jerusalém, formado pelos que detinham o poder executivo de reduzir a pó a seita emergente. Entre os participantes contavam-se “os chefes dos judeus, os anciãos, e os escribas, também Anás, o sumo-sacerdote, e Caifás, João e Alexandre e todos os familiares do sumo sacerdote.” (Act 4, 5-6). Mandam chamar os prisioneiros e interrogam-lhes:
“Com que poder ou em nome de quem fizestes isso?”
Curiosamente, estes chefes não lhes perguntaram porque “diziam isso”, ou porque “falavam daquilo”! Não. No anúncio da ressurreição deste Nazareno estavam implicadas acções concretas, com consequências palpáveis! O Concelho estava alarmado com os Actos dos apóstolos e discípulos de um ressuscitado…